Revista Rua


Hoje tem marmelada ... pelo debate sobre a medicalização da infância e da educação no Brasil
Today has marmalade ... The debate over medicalization of children and education in Brazil

Renata Chrystina Bianchi de Barros

 

Consideramos a língua para a compreensão do processo de individuação, porém esta nos interessa não na sua forma estrutural que apresenta um conteúdo a ser descoberto, mas sim nas formas da ciência do discurso que permite a análise do funcionamento do texto, isto é, colocando em questão os sentidos que circulam em dada interpretação, considerando que os sentidos e a interpretação são sujeitos a interpretação:
 
Na realidade, não há um sentido (conteúdo), só há funcionamento da linguagem. No funcionamento da linguagem, o sujeito (...) é constituído por gestos de interpretação que concernem sua posição. O sujeito é a interpretação... É pela interpretação que o sujeito se submete à ideologia, ao efeito da literalidade, à ilusão do conteúdo, à construção da evidência dos sentidos, à impressão do sentido já-lá. A ideologia se caracteriza assim pela fixação de um conteúdo, pela impressão do sentido literal, pelo apagamento da materialidade da linguagem e da história, pela estruturação ideológica da subjetividade (ORLANDI, 2001 p. 22).
 
É o dispositivo ideológico de interpretação funcionando nos acontecimentos do mundo. Este está relacionado ao interdiscurso – que, como sabemos, é estruturado pelo esquecimento. Nesse movimento, na relação do sujeito com os sentidos que circulam em dada conjuntura, é que as posições-sujeito se darão sob as forças de interpelação ideológica de formações sociais que controlam a interpretação institucionalmente. Assim, temos que a individuação do sujeito pelo Estado (instituições e discursos), de natureza sócio-histórica ideológica, é política (ORLANDI, 2009).
Sendo então, a escola, um espaço da cidade cujo acontecimento é social, é esta uma instituição marcada ideológica e politicamente. O indivíduo, já como forma sujeito histórica (capitalista), na falha do ideológico numa sobre-determinação do interdiscurso, identificar-se-á com a posição sujeito marcada social e ideologicamente pelo Estado através, nesta conjuntura, da instituição escola e dos discursos que circulam na sociedade sobre ela, do objeto da práxis pedagógica, do sujeito que se coloca ao aprendizado, entre outros sentidos possíveis na relação da linguagem com a sociedade. O sujeito, uma vez individuado, se identificará com uma ou outra formação discursiva e ao se identificar com sentidos possíveis se constituirá uma posição-sujeito na sociedade (cf. ORLANDI, 2012).
Estão estabelecidas nessas relações sociais o que Orlandi (2000) chama de relações de poder, que estabelecem um lugar de hierarquização do dizer. A autora explica, segundo esta noção, que a posição-sujeito a partir do qual ele fala é constitutivo do que ele (o sujeito) diz. Assim, um sujeito que se identifica com uma formação-discursiva num campo de sentidos do incapacitado – a escola como lugar de capacitação e aprimoramento – acaba por ser significado como posição-sujeito aluno-deficiente ao