Revista Rua


Hoje tem marmelada ... pelo debate sobre a medicalização da infância e da educação no Brasil
Today has marmalade ... The debate over medicalization of children and education in Brazil

Renata Chrystina Bianchi de Barros

 

Há de se considerar que a atividade escrita é um processo essencialmente social, passível de ser observado em comunidades cujo valor dado à letra conduz o sujeito adiferentes constituições e lugares enunciativos. Numa sociedade civilizada, o lugar primeiro ocupado pelo sujeito para a manipulação metódica dessa estrutura, é a escola.
Silva considera a cidade como “um espaço de constituição do sujeito e dos sentidos em sociedades cuja organização e funcionamento se fundam nas letras” (1999 p. 23), compreendendo a língua numa relação de exterioridade discursiva na relação da língua engendrada nos processo social, cuja materialidade é linguística.
No espaço da cidade, ao sujeito, ao apropriar-se da língua escrita, é permitido se tornar sujeito-cidadão, ocupando lugares enunciativos que lhe permitem dizer e produzir sentidos:
Nas cidades, não temos apenas uma relação entre o cidadão e o espaço urbano, mas um espaço social de linguagem que produz formas de individualização do sujeito na tensão e movimento da paráfrase e da polissemia, e sentidos que, sustentados por uma literalidade, marcam e delimitam territórios de linguagem logicamente estabilizados para um sujeito pragmático habitar (idem, p.26)
 
Para nós, a escrita é estruturante das relações sociais e dá forma à sociedade e a seus membros, uma vez que define o estatuto do interdiscurso definindo, em parte, os processos de individuação do sujeito (ORLANDI, 1999).
É importante salientar que, apesar do homem estabelecer inicialmente uma imagem mental da palavra gramatical e gráfica, a relação estabelecida para/com a escritura e a escolha das palavras está relacionada ao seu significado, ou seja, ao significado que será ancorado em função do texto, do discurso. Dessa forma, esta relação não é só gramatical, superficial, mas uma relação estabelecida com o simbólico, o histórico, o social e o ideológico, que nos fazem sujeito e nos permitem o imaginário (necessário) de que a nossa relação com o mundo é direta, imediata.
No mundo contemporâneo, configurado sob as normas do capitalismo, é exigido a cada dia que os sujeitos se coloquem aptos para a sua manutenção (do mundo). Assim, as escolas, as universidades e outros centros de ensino “preparam” os homens para ocuparem lugares que, de acordo com a demanda político-econômico-social, são lançados a uma prospecção de mercado de trabalho que exige, dos sujeitos, fluência oral e escrita, isto é, uma suposição de competências e habilidades.
Historicamente, o valor dado ao sujeito, na cidade, baseia-se sobre o que ele pode fazer em função do “crescimento” social próprio e conjunto das pessoas que ocupam “lugares de fé” nos diferentes grupos, que inevitavelmente têm a escrita como ponto