Revista Rua


Hoje tem marmelada ... pelo debate sobre a medicalização da infância e da educação no Brasil
Today has marmalade ... The debate over medicalization of children and education in Brazil

Renata Chrystina Bianchi de Barros

 

consideração de que a educação técnica especializada nada contribui para o futuro da indústria, que para o almejado desenvolvido precisariam de um trabalhador multifacetado, capacitado para a articulação de diferentes conhecimentos para a construção de produtos reais, o que não foi efetivado.
Contemporaneamente, a escola vem se preparando para os processos tecnológicos e de produção exigidos mundialmente, atrelando a Pedagogia a um modelo de ensino de adaptação do sujeito às condições de um mercado de trabalho (cf. PFEIFFER, 2010). Num movimento desenvolvimentista, incorpora, com força de lei a partir da Constituição Federal Brasileira de 1988, a obrigatoriedade de assumir e reelaborar decenalmente o Plano Nacional de Educação – PNE (BRASIL, 2000/2012), formulando propostas que proporcionem a formação de sujeitos preparados para as “transformações sociais”.
É nessa escola e para essa escola que se elaboram hoje processos educacionais para a infância e, para nós, instaura determinadas condições de produção para um acontecimento.
A noção de acontecimento, na Análise de Discurso, está ancorada nos estudos de Pêcheux, que formula a ideia de que o acontecimento está “no ponto de encontro entre uma atualidade e uma memória” na história (PÊCHEUX, 1997 p. 17), ou seja, há uma memória discursiva circulando na existência do real na atualidade, num modo de funcionamento em que a língua e a ideologia afetam a formulação dos sentidos. Assim, há discursos determinados ideologicamente num acontecimento que, não podemos deixar de considerar, são afetados pela forma material do espaço no qual “as coisas” acontecem.
Ao falarmos de um acontecimento num espaço tal – a escola – precisamos considerar os processos de ambiência, que afetam os acontecimentos e os sujeitos. Isto porque os efeitos de sentido que circulam num espaço têm relação com o que está posto pela forma material porque nela estão inscritos os processos históricos e ideológicos determinantes.
Orlandi (2001) reflete sobre a noção de espaço de acordo com a perspectiva discursiva. Para a autora, o espaço urbano é o lugar onde “história e língua se articulam produzindo sentidos (...) um espaço material concreto que funciona como um sítio de significações que demanda gestos de interpretação particulares” (p. 185). Para o nosso estudo, ao pensarmos sobre os sentidos para espaço, não nos interessa a significação que apresenta o espaço da escola como um lugar onde o aluno é aquele que se coloca