Revista Rua


Hoje tem marmelada ... pelo debate sobre a medicalização da infância e da educação no Brasil
Today has marmalade ... The debate over medicalization of children and education in Brazil

Renata Chrystina Bianchi de Barros

 

ser significado como incapaz ou posição-sujeito doente. É esta uma formação imaginária, ou seja, é uma imagem que resulta de projeção, permitindo ao sujeito passar de situações empíricas para situações de sentido, de significação, no discurso.
Pensamos que esta é uma condição para a instauração de um movimento de patologização e medicalização da infância na educação, estabelecendo uma relação de salvação dos processos desenvolvimentistas do país com as clínicas médicas e terapêuticas.
 
Sobre a medicalização da infância e da educação
 
Para que possamos debater os processos de medicalização da infância e da educação, esboçamos um delineamento para o rosto possível da infância e suas formas de educação. Para isso, colocamo-nos inicialmente a clarificar a noção de pessoa na sociedade brasileira contemporânea. Isto por que, pensamos, os estudos sobre a noção de pessoa podem auxiliar no debate do modo como cada sociedade concebe a infância (COHN, 2000), uma vez que esses processos afetam histórica e ideologicamente a construção subjetiva do infante.
Ballone (2005) aventa o debate orientando sobre as diferenças entre os conceitos de ser humano; pessoa e cidadão, compreendendo que a noção de ser humano refere-se à espécie humana, indivíduo como exemplar da espécie. Pessoa é aquela (e) submetida a uma cultura, inserida em uma sociedade no termo ético da palavra.
Já para Kant (2002, apud CHAVES, 2009 p. 145-146), todo ser humano é um ser de liberdade.
O cidadão do mundo nada mais é que um ser político e como tal este deve lançar mão, de forma metodológica, daquilo que ele pode conhecer a fim de alcançar seus objetivos enquanto indivíduo e, portanto, limitado, a fim de contribuir com o progresso contínuo da espécie, o que se configura em um ato de liberdade e conflui na ideia de pessoa humana (ser em constante construção) com a imagem de cidadão do mundo, unindo num único ser, a saber, o humano, a liberdade prática e a liberdade pragmática. Em outras palavras, o ser humano é por excelência moral a partir do momento em que escolhe livremente o que ele quer fazer de si mesmo no mundo, quer lançando mão de um formalismo (imperativo categórico da Fundamentação), quer utilizando-se de uma metodologia para se fazer livre no mundo (Antropologia Pragmática). (CHAVES, 2009 p. 152)
 
Para nós, assim como apresenta Chaves (2009), analisando as idéias de Kant, a pessoa é um ser em constante transformação, afetado pelas coisas do mundo no processo de socialização. Entendemos por sociedade um conjunto de indivíduos de