Revista Rua


Poesia: línguas, sentidos, prazeres
Poetry: languages, senses, pleasures

Thalita Miranda Gonçalves Sampaio

Acerca disso, os versos O céu seja aqui e Minha religião produzem sentidosdo prazer, funcionando diferentemente do pré-construído, visto que os sentidos de religião estão sempre ligados à inibição do prazer. O prazer passa a ser religião: Kaya now to me/ O céu seja aqui/ Minha religião é o prazer. Os sentidos vão se constituindo nesse movimento de reformulações, no já dado dos sentidos. Orlandi (2001) afirma que:
 
A condição da linguagem é a incompletude. Nem sujeitos nem sentidos estão completos, já feitos, constituídos definitivamente. Constituem-se e funcionam sob o modo do entremeio, da relação, da falta, do movimento. Essa incompletude atesta a abertura do simbólico, pois a falta é também o lugar do possível. (ORLANDI, 2001 p. 52)
 
E é nesta incompletude que se instaura o simbólico, na possibilidade da produção de novos sentidos, que segundo Orlandi (2001, p. 47), “é uma relação determinada do sujeito - afetado pela língua - com a história”. A música Babylon instaura um jogo erótico que se dá pela enunciação, isto ocorre em virtude do poético que é próprio da língua e que é articulado pelo compositor no ritmo da música/poesia:
 
Baby!/ I'm so alone/ Vamos pra Babylon!/ Viver a pão-de-ló/ E möet chandon/ Vamos pra Babylon!/ Vamos pra Babylon!...
Gozar!/ Sem se preocupar com amanhã/ Vamos pra Babylon/ Baby! Baby! Babylon!...
Comprar o que houver/ Au revoir ralé/ Finesse s'il vous plait/ Mon dieu je t'aime glamour/ Manhattan by night/ Passear de iate/ Nos mares do pacífico sul...
Baby!/ I'm alive like/ A Rolling Stone/ Vamos pra Babylon/ Vida é um souvenir/ Made in Hong Kong/ Vamos pra Babylon!/ Vamos pra Babylon!...
Vem ser feliz/ Ao lado deste bon vivant/ Vamos pra Babylon/ Baby! Baby! Babylon!...
De tudo provar/ Champanhe, caviar/ Scotch, escargot, rayban/ Bye, bye misere/ Kaya now to me/ O céu seja aqui/ Minha religião é o prazer...
 
Os termos em francês produzem sentidos de glamour, pela sua relação com a memória discursiva. É a memória que movimenta os sentidos pré-construídos, que já estão dados, mas que são reformulados a cada momento de uma nova enunciação. Segundo Pêcheux:
memória deve ser entendida aqui não no sentido diretamente psicologista da ‘memória individual’, mas nos sentidos entrecruzados da memória mítica, da memória social inscrita em práticas, e da memória construída do historiador. (PÊCHEUX2007, p. 50):
 
Há já sentidos pré-construídos a respeito do francês como uma língua glamourosa e sensual. Esse já dado à respeito do francês vem para a tessitura da poesia/música, construindo um lugar de prazer, na injunção das línguas francesa e inglesa: