Revista Rua


Poesia: línguas, sentidos, prazeres
Poetry: languages, senses, pleasures

Thalita Miranda Gonçalves Sampaio

Há sempre algo que fala antes, os sentidos se inscrevem na história e nós, ao nascermos, somos inseridos em uma sociedade que já fala, dessa forma somos tomados pela língua que já está em funcionamento. O sujeito é constituído por uma língua e por uma história, ambas já postas. Vemos então, que o discurso denuncia as marcas daquele que o produz. Ao enunciar, o sujeito constitui-se no seu dizer, determinado por uma exterioridade. Desse modo, devemos levar em consideração as condições de produção do dizer. Segundo Orlandi em seu artigo A questão do assujeitamento: um caso de determinação histórica:
[...] o assujeitamento tem uma forma histórica que depende da conjuntura da época, sendo diferente, por exemplo, na época medieval e na época contemporânea. Além disso, a relação do sujeito com a exterioridade não é direta, nem de causa e efeito, e passa pelo jogo das formações imaginárias relativas às condições de produção do dizer. (ORLANDI, s/d)
 
            Por esse motivo, há na composição um jogo de contradição que é articulado pelo Comprar o que houver/ Au revoir ralé contraposto pelo Eu não tenho renda/ Pra descolar a merenda.
Não tenho dinheiro/ Pra pagar a minha yoga/ Não tenho dinheiro/ Pra bancar a minha droga/ Eu não tenho renda/ Pra descolar a merenda/ Cansei de ser duro/ Vou botar minh'alma à venda...
Eu não tenho grana/ Pra sair com o meu broto/ Eu não compro roupa/ Por isso que eu ando roto/ Nada vem de graça/ Nem o pão, nem a cachaça/ Quero ser o caçador/ Ando cansado de ser caça...
 
Essa contradição é constitutiva do sujeito contemporâneo, interpelado pelo capitalismo, cujos valores estão relacionados ao ter. A Babilônia, que é dada em nossa materialidade simbólica como um lugar de prazer, de glamour, de ter, isto em virtude da memória discursiva, cujos sentidos se configuram como esse lugar de glamour, caracteriza-se pelo lugar onde o sujeito do capitalismo deseja estar. O antagonismo surge no momento em que o sujeito deseja estar nesse lugar significado pela babilônia, mas que no entanto localiza-se em um lugar de privações, como mostrado em nossa materialidade simbólica:
 
Eu não tenho grana/ Pra sair com o meu broto/ Eu não compro roupa/ Por isso que eu ando roto/ Nada vem de graça/ Nem o pão, nem a cachaça/ Quero ser o caçador/ Ando cansado de ser caça...
 
Há na composição um outro modo de significar esse desejo do glamour, neste aspecto os sentidos não são marcados pelas palavras em francês, mas pelas palavras em inglês como Manhattan by night e rayban, a primeira expressão remete a um distrito de