Revista Rua


Poesia: línguas, sentidos, prazeres
Poetry: languages, senses, pleasures

Thalita Miranda Gonçalves Sampaio

ilusão que é constitutiva do sujeito[2], esse fato é dado por Pêcheux (1975) e retomado por Orlandi como o esquecimento número um:
 
[...] ele é da instância do inconsciente e resulta do modo pelo qual somos afetados pela ideologia. Por esse esquecimento temos a ilusão de ser origem do que dizemos quando, na realidade, retomamos sentidos pré-existentes. (ORLANDI, 2001, p. 35)
 
O ser passa a se constituir pelo ter e em nossa materialidade, “Babylon” passa então a constituir esse lugar em que o sujeito do capitalismo deseja estar, de modo que deixa-se de ser caça para ser caçador.
Podemos então concluir que o simbólico perpassa os limites da forma, ou seja, para que um signo faça sentido, ele deve estar inserido em um contexto histórico. O mesmo acontece com o sujeito, visto que ele constitui-se deste contexto histórico, o que faz com que seu dizer produza sentido. Dessa forma, em nossa materialidade simbólica nos deparamos com o sujeito do hoje, contemporâneo, uma vez que, pelo simbólico presente na música (composta em 2000) e por isso contemporânea, o que encontramos é esse sujeito que ao mesmo tempo é individualizado pelo estado, que sente-se dono de si e do seu dizer, mas que no entanto é subordinado, que tem os seus direitos, mas antes, tem deveres.
Os sentidos que estão articulados em nossa materialidade simbólica faz vivo este impasse, uma vez que o sujeito deseja o prazer e a “liberdade”, mas coloca-se em uma realidade que se dá de modo divergente aos seus desejos. Pelo simbólico Babylon passa então a ser o lugar da possibilidade de liberdade, onde a “caça” passa a ser “caçador”: Eu não tenho grana/ [...]/ Eu não compro roupa/ Por isso que eu ando roto/ Nada vem de graça/[...]/Quero ser o caçador/ Ando cansado de ser caça. Essa contradição faz-se presente também nos diferentes sistemas de signos que logo de início vem mostrar esse sujeito multifacetado que é constituído de diversas materialidade simbólicas e que significa através destas referidas materialidades.
 


[2]C. Haroche (1987) mostra-nos que a forma-sujeito religioso, característica da idade média, representou uma forma-sujeito diferente da moderna forma-sujeito jurídico. Com a transformação das relações sociais, o sujeito teve de tornar-se seu proprietário, dando surgimento ao sujeito-de-direito com sua vontade e responsabilidade. A subordinação explícita do homem ao discurso religioso dá lugar à subordinação, menos explícita, do homem às leis: com seus direitos e deveres. Daí a ideia de um sujeito livre em suas escolhas, o sujeito do capitalismo. (ORLANDI, 2001, p. 51),