Revista Rua


Poesia: línguas, sentidos, prazeres
Poetry: languages, senses, pleasures

Thalita Miranda Gonçalves Sampaio

(...) Baby!/ I'm so alone/ Vamos pra Babylon!/ Viver a pão-de-ló/ E möet chandon/ Vamos pra Babylon!/ Vamos pra Babylon!...
Gozar! / Sem se preocupar com amanhã/ Vamos pra Babylon/ Baby! Baby! Babylon!...
Comprar o que houver/ Au revoir ralé/ Finesse s'il vous plait/ Mon dieu je t'aime glamour/ Manhattan by night/ Passear de iate/ Nos mares do pacífico sul... (...)
 
O lugar de prazer constrói-se também no convite para ir à Babylon ou Babilônia, em português. O discurso é determinado por sua exterioridade, de acordo com Orlandi (2001, p. 50): “Quando falamos em historicidade, não pensamos a história refletida no texto mas tratamos da historicidade do texto em sua materialidade. O que chamamos historicidade é o acontecimento do texto como discurso, o trabalho dos sentidos nele”. O simbólico na composição de Zeca Baleiro nos leva a esse trabalho de sentido do qual a autora nos fala, pois na injunção do francês com o inglês, trabalhado na sintaxe do português, o compositor faz o convite para àquele que ouve a música a ir a um lugar prazeroso, que é a Babilônia. Esta por sua vez, é dada também como um lugar de prazer, devido a uma memória, na qual se repetem e produzem novos sentidos. Isto porque os sentidos não são produzidos de forma inédita, pelo contrário, são formados pelo histórico da língua.
Com relação a essa memória que fundamenta os sentidos pré existentes sobre a Babilônia, podemos tomar como exemplo o texto bíblico: “[...] Caiu, caiu a Babilônia, a grande; [...] Porque deu de beber a todas as nações o vinho do furor de sua prostituição; os reis da terra prostituíram-se com ela, e os mercadores da terra enriqueceram-se com o poder do seu luxo”. (Apocalipse, 18, 2-3). Na materialidade simbólica da composição musical, os sentidos são articulados por essa memória discursiva, tanto pela memória que antecede os sentidos a respeito da Babilônia, como pela memória que faz do francês e do inglês, línguas prestigiadas, cult.
 
(...)Gozar!/ Sem se preocupar com amanhã/ Vamos pra Babylon/ Baby! Baby! Babylon!...
Comprar o que houver/ Au revoir ralé/ Finesse s'il vous plait/ Mon dieu je t'aime glamour/ Manhattan by night/ Passear de iate/ Nos mares do pacífico sul... (...)
            Segundo Orlandi:
Resta-nos lembrar que a análise de discurso trabalha com a materialidade da linguagem, considerando-a em seu duplo aspecto: o linguístico e o histórico, enquanto indissociáveis no processo de produção do sujeito do discurso e dos sentidos que (o) significam. O que me permite dizer que o sujeito é um lugar de significação historicamente constituído. (ORLANDI, 1996, p. 37)