Revista Rua


Poesia: línguas, sentidos, prazeres
Poetry: languages, senses, pleasures

Thalita Miranda Gonçalves Sampaio

Nova York, que caracteriza-se também como centro econômico[1], a outra palavra remete à uma marca famosa de óculos. Tais palavras significam a posição do prestígio, do glamour e são usadas em relação a uma outra posição discursiva, a da falta de dinheiro, materializada no uso da língua portuguesa, significando o Brasil como um sub-lugar.
 
Nós, hoje, só falamos em globalização ou em exclusão, em distância social crescente ou, ao contrário, em concentração do capital ou da capacidade de difundir mensagens e formas de consumo [...] Nesse esquema o indivíduo que está “fora” não tem mais, como no caso de uma sociedade de integração piramidal, a possibilidade de imaginar que ele pode subir os degraus de uma escala, que ele pode progredir, que ele pode sair de sua situação. O fosso aparece como quase intransponível e o medo difundido é cair do lado ruim. Segundo Touraine (idem) nós estávamos numa sociedade de descriminação, nós nos tornamos uma sociedade de segregação. (TOURAINE, 2001 apud ORLANDI, 2005)
 
Estes sentidos são produzidos porque o dizer possui uma história que se inscreve em uma memória que é refeita a cada enunciação. Essa memória com relação às palavras em inglês, situa o sujeito em uma época, em um determinado lugar, em um determinado espaço, características estas que se encontram marcadas em seu dizer. Não se escreve as palavras em inglês propositalmente, como se o sujeito fosse dono de seu dizer, mas se escreve por que há uma exterioridade que o determina.
            Segundo Orlandi:
 
Uma vez interpelado em sujeito, pela ideologia, em um processo simbólico, o indivíduo, agora enquanto sujeito, determina-se pelo modo como, na história, terá sua forma individual(izada) concreta: no caso do capitalismo, que é o caso presente, a forma de um indivíduo livre de coerções e responsável, que deve assim responder, como sujeito jurídico (sujeito de direitos e deveres), frente ao estado e aos outros homens. Nesse passo resta pouco visível sua constituição pelo simbólico, pela ideologia. Temos o sujeito individualizado, caracterizado pelo percurso bio-psico-social. O que fica de fora quando se pensa só o sujeito já individualizado, é justamente o simbólico, o histórico e a ideologia que torna possível a interpelação do individuo em sujeito. (ORLANDI, 2001, p. 107)
 

Na composição de Baleiro, o convite para ir à Babilônia e deixar tudo aquilo que no capitalismo é impositivo ao sujeito: Eu não tenho grana/ Pra sair com o meu broto/ Eu não compro roupa/ Por isso que eu ando roto/ Nada vem de graça/ Nem o pão, nem a cachaça, funciona como um meio de sentir-se livre quanto às coerções do estado. No entanto há uma determinação e esse sentir-se livre funciona novamente como uma


[1] Manhattan [é] o centro econômico da cidade, onde está localizado o wall street, com a concentração do setor financeiro da cidade, com as suas bolsas de valores, bancos, casas de câmbio, com a sua grande referência arquitetônica de seus inúmeros prédios, onde o de maior destaque é o Empire State Building. O distrito de Manhattan, por onde circulam milhões de pessoas diariamente, e que unindo aos demais distritos como o Broolklyn, o Bronx, Queens, e o Staten Island, forma a região metropolitana de Nova Iorque. [grifos nossos] acesso em: <http://www.newyorktour.com.br/ilha_de_manhattan.html>