Revista Rua


Do Repetível ao Historicizado: Notas Sobre uma Prática de Sentidos
(From the Repeatable to the Historicized: Notes About a Practice Of Senses)

Rejane Maria Arce Vargas

entretecidas, pois falar da comunidade é falar (ao mesmo tempo) da escola ou ainda falar da escola requer (antes) falar sobre a comunidade.
 
Texto A – Transcrição de trecho de vídeo institucional[16]
[COMUNIDADE]
Na madrugada do dia 7 de Dezembro de 1991, um grupo de famílias orientadas pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia ocupa a antiga fazenda Santa Marta, a fim de conseguir a desapropriação da área e, conseqüentemente, ter um lugar para morar, deixando de ser inquilinos ou moradores de rua. Após muitas reivindicações pelo direito à habitação, este grupo torna-se a maior ocupação urbana do país, contando com aproximadamente 20.000 pessoas que, infelizmente, ainda hoje, vivem em condições precárias, algumas sem água, luz e, na sua totalidade, sem saneamento básico.
[ESCOLA]
É nesta realidade que os irmãos maristas, inspirados no sonho do fundador Marcelinho Champagnat, que é educar e evangelizar crianças e jovens, principalmente os mais empobrecidos, optaram por construir uma grande obra social na Nova Santa Marta; uma escola que atendesse grande parte das crianças e jovens da comunidade e assim, no dia 07 de março de 1998, nasce a Escola Marista Santa Marta.
 
Podemos notar, no texto acima, duas histórias que se entrelaçam. Escola e comunidade formariam um ‘todo’. É dessa forma que compreendemos o funcionamento do discurso na comunidade Nova Santa Marta. Por atravessamentos de posições que se embatem [no campo teórico], mas não se chocam em sua práxis, ensejando movimentos de alteridade que insinuam novas formas de relação com uma formação discursiva[17] (FD) ‘dominante’ [pensamos aqui mais propriamente em relações de poder do que em sobredeterminação de sentidos provenientes de uma FD religiosa/marista]. Nesse sentido, a escola (tomada enquanto espaço heterogêneo de discursos) se configura como lugar de possibilidades, uma vez que é onde são formulados dizeres que ensejam a singularidade por meio do discurso da escola (e do religioso) que corporifica o discurso da problemática social, da materialidade das


[16] ESCOLA MARISTA SANTA MARTA. [s/d]. Vídeo Institucional. Santa Maria, RS: KVA Produções.
[17] A noção de formação discursiva é aqui entendida à luz de Pêcheux em consonância com as releituras que vêm sendo feitas, especialmente por Courtine e Indursky, de forma que podemos dizer que uma FD é o que determina o que pode e deve ser dito em circunstâncias específicas, históricas, sociais e ideológicas as quais dão a direção dos sentidos dos saberes sobre o mundo, mediante um jogo de filiações regido pelas tomadas de posição dos sujeitos, isto é, pelas posições que eles vão ocupar segundo a conjuntura dos discursos, sempre levando em conta que os sentidos, mesmo face à heterogeneidade, inscrevem-se na história, quer dizer, são regidos e demandam interpretação.