Revista Rua


Do Repetível ao Historicizado: Notas Sobre uma Prática de Sentidos
(From the Repeatable to the Historicized: Notes About a Practice Of Senses)

Rejane Maria Arce Vargas

quatro torneiras comunitárias na ocupação. A reivindicação por água e luz só foi atendida no ano de 1996 (cf. SCHERER, 2005)[2].
Somente após sete anos de ocupação, em 1998, a Nova Santa Marta passou a contar, na Vila Pôr-do-Sol, com uma instituição escolar, a Escola Marista Santa Marta, que se propunha a atender alunos de pré-escola até a 4ª série. Avoluma-se nesse período a preocupação com as vias de acesso, pois o caminho até a escola envolvia a travessia de uma sanga. Desde então começaram as passeatas, o envio de cartas às autoridades da cidade, as manifestações públicas com a participação de estudantes.
Vale ressaltar que essa escola é uma instituição particular de ensino, porém, trata-se de um projeto social voltado à educação popular que visa à promoção da cidadania, da consciência crítica, da autonomia por meio da valorização do lugar onde se mora via engajamento em questões em que nele se desenrolam e este orientado por uma práxis pautada no princípio da ‘transformação social’, o que designamos como “educação popular libertária”. Nessa perspectiva, a escola adota uma proposta de desenvolvimento ‘integral’ do educando, que busca efetivar-se mediante uma ‘pedagogia de projetos’ que objetiva ir ao encontro dos interesses de vida dos alunos e da comunidade, uma vez que estes participam do processo de escolha dos temas a serem estudados ou mesmo praticados. Oferece ainda atividades extraclasse, como capoeira, dança de rua, grafite, canto, teatro, acesso à microinformática etc., das quais algumas são extensivas a familiares de alunos ou a pessoas sem vínculo com a escola, por meio do Centro Social Marista, que funciona agregado à escola e constitui uma organização que atende também a grupos de terceira idade, jovens, contemplando entre suas atividades as que visam à geração de trabalho e renda, na forma de oficinas de capacitação (cf. Proposta Pedagógica da Escola[3]).
A ocupação conta também, desde 2001, com a Escola Estadual Assentamento Santa Marta, a qual oferta todas as séries do ensino fundamental, bem como a educação de jovens e adultos. Em 2003, a ocupação recebeu a atenção do município, passando a contar com a Escola Municipal Adelmo Simas Genro (cf. SCHERER, 2005). Contudo, a demanda por escolas ainda é um problema na ocupação, pois não há instituição de


[2] Maurício de Freitas Scherer elaborou, em 2005, uma cartilha de caráter histórico-geográfico sobre a ocupação, é uma historiografia importante para este trabalho, na medida em que contempla as demandas da comunidade desde 1991 a 2005, destacando os primeiros momentos da ocupação e os mais tensos, as datas de efetivação das reivindicações, da instalação de escolas, das mobilizações, caminhadas, protestos, cadastramentos, celebrações etc.
 
[3] Em: http://www.maristas.org.br/colegios/page.asp?cod=28&codpag=1041