Revista Rua


Do Repetível ao Historicizado: Notas Sobre uma Prática de Sentidos
(From the Repeatable to the Historicized: Notes About a Practice Of Senses)

Rejane Maria Arce Vargas

madrugada, pela votação do projeto (...) o grupo dos moradores que esperaram das três da tarde de quinta-feira até as seis da manhã de sexta para ver o projeto ser votado (Ata 088/2007, Sessão Plenária da Câmara de Vereadores de Santa Maria, em 13/12/2007. Grifos nossos).
 
Resta à comunidade aguardar pela execução das obras e pela documentação de posse de seus lotes em um espaço do urbano onde ocupações organizadas[8] e espontâneas se seguiram ao longo dos dezessete anos desde a primeira ocupação, e que hoje é constituído por oito unidades residenciais e mais de 20 mil habitantes.
Até aqui, contamos uma história na qual procuramos nos inserir ao modo de um olhar perpassado pela teoria do discurso, que visou a entretecer um caminho em face de uma história que se dá no tempo presente e da qual não objetivamos distanciamento, mas um olhar intervalar, que busca nos hiatos e silêncios a política de um dizer que constitui especialmente os sujeitos do lugar. E há inúmeras formas de contar essa história; contudo, em uma perspectiva materialista do discurso, em que se dá voz às práticas efetivas de sentidos, acreditamos que, seja lá como for a forma escolhida para o contar, esta sempre reclama pelas ações em nível simbólico, constituída de fatos, de materialidades que precisam ser remetidas a uma história de filiação de dizeres –  por isso dizemos que a história pode ser muitas, mas não qualquer uma, pois demanda as práticas de sentidos, isto é, os sujeitos que as puseram em movimento de historicização. Diante dessas premissas, compusemos o corpus de análise mediante textos formulados no seio da comunidade em situações em que não houve a intervenção do pesquisador. Dessa forma, os textos que analisamos chegaram até nós em razão da sensibilidade de uma das professoras de Língua Portuguesa dos adolescentes[9], que nos possibilitou o acesso aos textos em face do conhecimento de nosso interesse de pesquisa. Dito isso, outro momento se constitui a partir de então, a voz de quem conta é a de quem vive o contar e o pratica.

PRATICAR UMA HISTÓRIA – PONTE ENTRE ESCRITA, ESCOLA E VIDA
 
O corpus da pesquisa foi então compreendido por: 70 produções textuais de alunos da Escola Marista Santa Marta; seleção de fotos da comunidade feitas pelos


[8] De acordo com Scherer (2005), as ocupações 07 de Dezembro (1991), 10 de Outubro (1992) e Alto da Boa Vista (1993) foram organizadas pelo MNLM.
[9] Agradecemos a professora Taís da Silva Martins, que nos disponibilizou os textos de seus alunos, imprescindíveis no desenvolvimento de nossa pesquisa no âmbito constitutivo e humano que a ela subjaz.