Revista Rua


Guerra Fria, Sangue Frio: As Conexões entre o Cinema de Terror e a Paz Armada
Cold War, Cold Blood: The Connections between Horror Movies and the Armed Peace

Marcelo Eduardo Marchi

medos humanos é entrar em contato com a organização social de cada época. Como disseram Vanoye e Goliot-Lété (1994: 55), “um filme sempre ‘fala’ do presente (ou sempre ‘diz’ algo do presente, do aqui e do agora de seu contexto de produção). O fato de ser um filme histórico ou de ficção científica nada muda no caso.”
Talvez a maior confluência dessa característica de representação cinematográfica das tensões do mundo real dentro do gênero terror seja encontrada nos anos 1970. Essa década promove um recorte aglutinador extremamente interessante, tanto da produção cinematográfica de terror quanto das nuances sociais desencadeadas pelo contexto da Guerra Fria. Como aponta Stephen King, pesquisador da área e autor de dezenas de livros no gênero:
 
Em muitos casos, particularmente nos anos 50 e novamente no início dos anos 70, os medos expressos são sociopolíticos por natureza, fato que dá a filmes tão diferentes quanto Invasores de Corpos, de Don Siegel, e O Exorcista, de William Friedkin, uma sensação de documentário estranhamente convincente. Quando os filmes de horror mostram suas várias facetas sociopolíticas – o filme B como editorial jornalístico –, eles estão quase sempre servindo como um barômetro extraordinariamente preciso daquilo que perturba o sono de toda uma sociedade. (2003: 93)
 
 
É inegável o impacto que a Guerra Fria teve na cultura em geral. Nos anos 1960, o movimento hippie, abertamente contra o capitalismo, a intervenção americana no Vietnã e a mentalidade conservadora da época, procurava saídas para a situação vigente, dando origem a uma contracultura que se expandiu por todos os setores artísticos. O cinema, até então considerado o mais poderoso veículo midiático para divulgação dos ideais e do estilo de vida americanos, tornar-se-ia, nessa década e na posterior, uma faca de dois gumes. E não demorou para que essa tendência chegasse às produções de terror.
 
METODOLOGIA DE ANÁLISE
 
Ao entrar em contato com diversas correntes metodológicas da análise fílmica, houve duas que se destacaram quando confrontadas com a intenção inicial da pesquisa: desvendar as manifestações, simbólicas ou não, do contexto histórico da década de 1970,