Revista Rua


A contrapelo: incursão teórica na tecnologia - discurso eletrônico, escola, cidade
Against the grain: theoric incursion in the technology - eletronic discourse, school, city

Eni Puccinelli Orlandi

processo complexo. Há a interpelação do indivíduo, afetado pela língua, em sujeito pela ideologia, o que resulta em uma forma sujeito histórica, em nosso caso, a capitalista. Esta, por sua vez, declina-se em sua relação com o Estado de maneira própria à sua forma. Como o Estado capitalista funciona pelo jurídico, esta forma sujeito funciona com seus direitos e deveres. O Estado, por sua vez, cumpre o seu modo de funcionamento, capitalista, individualizando o sujeito pela prática de suas Instituições e Discursos. E aí temos a forma sujeito individualizada, constituindo-se como um sujeito ao mesmo tempo livre, dono de sua vontade, e responsável. Liberdade e submissão, ser determinador e ser determinado, eis a contradição que o sujeito assume em seu próprio modo de funcionamento na ideologia capitalista.
            Como material de análise, procurei tomar como objeto de minha observação fragmentos de discursos de especialistas, isto é, de analistas de sistema. Pois bem, ao ler a proposta feita por Fábio Bastos[2] (03/05/07) em uma primeira reunião de trabalho sobre o e.Urbano, chamou-me logo a atenção o seu primeiro parágrafo sobre o “usuário”:
A internet hoje não é mais como era há alguns anos. Até pouco tempo atrás navegávamos na internet e somente recebíamos dados. Atualmente sempre interagimos enviando dados que transformam-se em informações em formato de textos, imagens, sons e vídeos. Navegando na internet muitas vezes nos sentimos no ambiente urbano (grifos nossos).
 
            Pensados através da análise de discurso, haveria um deslizamento (efeito metafórico: PÊCHEUX, 1990) para noções como: usuário = sujeito; navegávamos = percorríamos relações; dados = fatos de linguagem; interagimos = praticamos gestos de interpretação; transformam-se = derivam; informações = sentidos; formato de textos =


[2] Fábio é nosso analista de sistema, no Labeurb, e tem trabalhado conosco em diferentes projetos, ora nos instrumentando com objetos digitalizados, ora procurando refletir conosco sobre o próprio modo de funcionamento do discurso digital.