Revista Rua


A contrapelo: incursão teórica na tecnologia - discurso eletrônico, escola, cidade
Against the grain: theoric incursion in the technology - eletronic discourse, school, city

Eni Puccinelli Orlandi

Trarei, então, para esta reflexão, a distinção que tenho proposto entre: memória discursiva ou interdiscurso, memória institucional (arquivo) e memória metálica (técnica).
            A memória discursiva ou interdiscurso (PÊCHEUX, 1975 ; COURTINE, 1982), é a que se constitui pelo esquecimento, na qual “fala uma voz sem nome” (COURTINE, op.cit). Aquela em que “algo fala antes, em outro lugar, independentemente” (PÊCHEUX, op.cit.), produzindo o efeito do já-dito.
Por outro lado, a memória institucional ou a que chamo a memória de arquivo ou simplesmente o arquivo, é aquela que não esquece, ou seja, a que as Instituições (Escola, Museu, políticas públicas, rituais, eventos etc.) praticam, alimentam, normatizando o processo de significação, sustentando-o em uma textualidade documental, contribuindo na individualização dos sujeitos pelo Estado, através dos discursos disponíveis, à mão, e que mantêm os sujeitos em certa circularidade.
E considero, enfim, a memória metálica, ou seja, a produzida pela mídia, pelas novas tecnologias de linguagem. A memória da máquina, da circulação, que não se produz pela historicidade, mas por um construto técnico (televisão, computador, etc.). Sua particularidade é ser horizontal (e não vertical, como a define Courtine), não havendo assim estratificação em seu processo, mas distribuição em série[3], na forma de adição, acúmulo: o que foi dito aqui e ali e mais além vai se juntando como se formasse uma rede de filiação e não apenas uma soma, como realmente é, em sua estrutura e funcionamento. Este é um efeito – uma simulação - produzido pela memória metálica, memória técnica. Quantidade e não historicidade. Produtividade na repetição, variedade sem ruptura. E o mito, justamente,


[3] É interessante observar que o usual, quando se fala do digital, é falar-se em redes. No entanto, face à questão da memória, a filiação a redes é fato da memória discursiva, o interdiscurso. Já a memória metálica, técnica, não produz redes em profundidade, mas serialização na/de superfície. Repetição e quantidade, em sua forma binômica.