Revista Rua


A contrapelo: incursão teórica na tecnologia - discurso eletrônico, escola, cidade
Against the grain: theoric incursion in the technology - eletronic discourse, school, city

Eni Puccinelli Orlandi

São dis-posições diferentes do espaço (do sujeito e dos sentidos). Finalmente, um exemplo que costumo dar em aulas: a forma como a escola dispõe a posição dos alunos – sentados em suas carteiras – em relação ao professor – em pé, diante da lousa, ou sentado individualmente na frente da classe – já é uma maneira de significar a relação aluno/professor e de disciplinar o discurso entre eles. Daí se conclui, portanto, que o espaço significa, tem materialidade e não é indiferente em seus distintos modos de significar.
            Quando pensamos o espaço virtual, digital, devemos considerar, já de início, que forma de enquadramento e que fenômenos ele configura.
            Ele é fundamentalmente urbano. Mas é necessário refletir sobre o seu modo de inscrição no espaço urbano e o inverso: como o espaço urbano se inscreve nele o qualificando em sua urbanidade.
            O fato de pensarmos o urbano digital nos coloca frente à questão: que injunções interpretativas são aí produzidas e que natureza de efeitos isso produz tanto sobre o urbano como sobre o virtual. Como dissemos, o espaço digital – ainda que seja virtual – tem sua materialidade e produz efeitos. Creio que o próximo passo da reflexão, e que deixo em aberto para novas investidas, é o de conhecer o estatuto dessa materialidade e seus efeitos. Tendo esse objeto definido: o virtual urbano que é o que nos interessa. Ou seja, o que da urbanidade afeta o virtual? Pergunta que, como se pode ver, inverte o senso comum que se pergunta em que o virtual afeta o urbano.[5].


[5] Esta última parte do texto foi extraída e adaptada de “O Espaço Significativo da Violência”, texto que apresentei em seminário na UFBA.