Embora preferisse ficar i-móvel, Escrita era forçada a se movimentar. Carregado de sonolentas palavras e um ouvido fingido, andava de casa em casa sob forte escolta, desescutando as histórias dos Heróis da vila que deveriam preencher as páginas do livro salvador: “Como eram prodigiosos ao demarcarem seus territórios. Quase uma arte!”, ria-se consigo mesma. Subiam os morros, carregavam e conduziam o povo todo junto, e cantavam as fronteiras. Galos empoleirados. Lutavam obsessivamente pela melhor, mais bela e verdadeira Plumagem. Mas, ao mesmo tempo, envolviam-se em disputas ferrenhas e assistíamos à destruição de corpos, ao esvoaçar e estraçalhar das penas, ao piar doloroso. Havia cheiro de morte naquelas histórias que clamavam pelos testemunhos mais fiéis, pelas origens mais puras, pelos melhores representantes, os mais decentes pretendentes a serem perpetuados. Queriam-se VerSões, mas era sempre o Mesmo. Queriam-se Plurais, mas investiam na expulsão dos outros galos, afinal a história tinha que ser privada, una, unificada. Escrita total. Era Constância quem realmente ganhava a disputa. Fugindo da briga de galos, seus pensamentos vagabundavam – “A vila já se encontraria submersa?” – e Escrita terminava por colocar no papel, como uma criança que aprende a escrever, usando mais de um terço da página, em letras desconcertadas, apenas os Nomes dos heróis. Apenas Nomes… Consumido que andava, saiu da vila e encontrou um poeta, josé avelino dias, que do alto do Vale bramia e também cantava as divisas, mas um canto muito distinto: