Revista Rua


Vagabmundear pensamentos - ciência e loucura e arte
Vagabond thinking - science and art and madness

Susana Oliveira Dias

Cena 2 – Narradores de Babé – papelar de marli wunder (2008)[1]
 
Mas que canto é esse, que se manifesta, infesta e festa as fronteiras? Que piar doloroso, que nasceria, entretanto, de uma luta e uma dor distintas? Que canta e devora o território enclausurador da Escrita messiânica e emancipatória, para dele traçar uma fuga. Fuga que só poderia acontecer dentro do território da Escrita? Saída que passa pela invenção de um modo de estar bárbaro no próprio território da Escrita, pelo dilaceramento político e poético de suas propriedades, pelo rasgo de suas certezas, pelo despregar e despatriar as palavras de uma vontade de Revolução. Ar-riscando Liberdade, Honra, Pátria e Santidade, chama por outros Povoamentos. Povo-Ar. É certo que, depois disso tudo, o território não é mais o mesmo, embora seja. Mas que certo mais incerto é esse? O poeta salva? Perde?
Com essas escolhas a Escrita e o Poeta não seriam bons representantes da vila? Não, não seriam. Mas o que seriam então? Garantiriam a salvação? Produziriam um milagre, que fizesse eco aos gritos de União e Liberdade, que desse voz às minorias, que mudasse a consciência das pessoas que pretendiam inundar o lugar? Não, também não. Enquanto a salvação se opunha à perdição – não qualquer perdição, mas à perdição da linguagem, das possibilidades políticas de não recair nem na veracidade científica nem na ficção novelística e jornalística, operando variações meramente estruturais, sem ruir a ossatura e os edifícios que as sustentam – não, também não. Se o problema parecia resumir-se a não (se) salvar, Escrita pensava com o Poeta, Poeta pensava com a Escrita,


[1] Papelar – ensaio fotográfico de Marli Wunder produzido para a tese de doutorado: DIAS, Susana Oliveira. (2008). Papelar o pedagógico... escrita, tempo e vida por entre imprensas e ciências. (Tese de Doutorado). Campinas: FE-Unicamp.