Revista Rua


Vagabmundear pensamentos - ciência e loucura e arte
Vagabond thinking - science and art and madness

Susana Oliveira Dias

“da passagem, do intervalo presente nas coisas, do intervalo na vida”(ROSA, 2009, p.72).
 
Cena 4 – Narradores de Papé – isadora ferraz (2010)[6]
 
Já walmor corrêa criara uma fórmula. Não para produzir mais ciência, mas para “renegociar a própria ideia do que é, ou não, científico”[7]. A fórmula do artista consistia em provar cientificamente que não há como lavar, limpar e salvar o mundo da poeira e da loucura, antes é preciso afirmar o seu excesso. Trabalhando como um investigador, pilhava e “hackeava” os Dados e Ferramentas científicos, capturando seus códigos, e dava vida aos mitos nas Pranchas Anatómicas. Lá estavam sereias e sucupiras estendidas e dissecadas num detalhamento obsessivo. Escrita sentia-se atraída por esse Procedimento que desejava a invasão, o arrombamento. Fantasia, lenda, imaginação que invade a Escrita científica e transgride os princípios das ciências: observação, registro e catalogação. Fazendo com que a linguagem científica, linguagem dita do real, crie um ato de fabulação e gagueje desde dentro. Figuras fictícias com órgãos, músculos, ossos e vísceras aparentes, em desenhos que utilizam a plástica taxonômica realista da História Natural. Provocando desentendimentos e estragos. Seres que desconheceriam suas impossibilidades, sejam elas determinadas pelas ciências ou pelos mitos[8].


[6] Imagem que a artista criou para a capa e contra-capa do catálogo da Semanas de Dança. Diálogos. Suas obras podem ser vistas no site: http://isadoraferraz-trabalhos.blogspot.com/
[7] As obras do artista podem ser acessadas no site: http://www.walmorcorrea.com.br/php/inicio.php
[8] Possibilidades exploradas com a obra do artista em minha tese de doutorado: DIAS, Susana Oliveira. (2008). Papelar o pedagógico... escrita, tempo e vida por entre imprensas e ciências. (Tese de Doutorado). Campinas: FE-Unicamp.