Revista Rua


Vagabmundear pensamentos - ciência e loucura e arte
Vagabond thinking - science and art and madness

Susana Oliveira Dias

cumpre o ofício do Engajamento na luta. Mas Câmera também não salva o vilarejo. Antes dá expressão à Insuficiência das grandes imagens, à Captura das grandes narrativas, centradas no sujeito e na razão e que desejam participar a verdade do mundo.
Jacques derrida (2003) pensava em algo como se o sujeito e a razão corressem o risco de perder (uma doença mental), de se perderem (uma loucura), ou, ainda, de se tornarem uma causa perdida (um fracasso, um criminoso). Um lançar Escrita ao esquecimento do louco, ao testemunho bêbado e cambaleante que perde o controle e efetua-se na não efetuação.
O livro em branco.
Tudo em nome da imprevisibilidade da vinda, do arrebatamento do que virá, dos distúrbios e perturbações de quem vem... mobilizada pelas provocações de derrida, Escrita imaginava-se em outras capturas e solturas que clamavam por procedimentos de pensar, sentir, agir, por (des)funcionamentos, por forças do incerto, do incalculável, do imprevisível. Gestos que não implicariam abrir mão do povo e da luta, muito menos de afirmar que a Escrita teria somente a si mesma como objeto, mas abrir mão da ideia de que a Escrita teria a si mesma como sujeito. Uma força de esvaziamento que abre para um devir-qualquer-coisa da Escrita. A Escrita-Narrador-Aranha de deleuze e proust (2006), que ganha contornos múltiplos, desarranjados, sem órgãos, sem organismo, sem visão, sem vivência, sem lembranças. O louco de Lawrence Ferlinguetti[4]: “E ele é o olho louco da quarta pessoa do singular/Da qual ninguém fala/E ele é a voz da quarta pessoa do singular/Pelo qual ninguém fala/ E que toda vida existe”.
O “o esplendor do on”, diria schérer, em que não se trata de uma mera escolha linguística, mas de praticar desvios na linguagem, linhas de fuga, “em que vida e escrita, por intermédio do impessoal, se fazem indiscerníveis uma da outra” (SCHÉRER, 2000, p. 21-38). A violência afirmativa de que a Escrita não é nada, não significa nada, não representa nada.
Ressecada e inundada por uma loucura Impessoal, Escrita cambaleava sem rumo pelas ruas da vila inundadas de intensidades bêbadas, às margens de um rio seco de possíveis. Foi perseguido por um bando de crianças que cantarolavam às voltas a loucura de ynta yntaxri (PIGNATARI, 2008).
Bili belisa
Bela Bili
Bili Bélica
 
Bili Bárbara


[4] Citado por René Schérer (2000).