Revista Rua


Consumo, Espaço e Memória
Consumption, public space and memory

Guilherme Carrozza e Andrea S. Domingues

 

Introdução
 
Nesse texto, procuramos compreender como a principal avenida de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais, a Avenida Doutor Lisboa, hoje tomada por lojas e pontos comerciais, veio se constituindo como “centro comercial” da cidade[3], em paralelo à denominação que foi sendo atribuída a Pouso Alegre, em maior âmbito, como centro comercial e industrial do sul de Minas. Interessa-nos olhar para a Avenida Doutor Lisboa em sua textualidade, como espaço simbólico que constitui um determinado dizer sobre a cidade.
Partimos da suposição de que o processo pelo qual se constituiu a referência à Avenida enquanto centro comercial pode ser pensado como um acontecimento discursivo. Trata-se, dessa forma, de tentar compreender esse “ponto de encontro entre uma memória e a atualidade” (PÊCHEUX, 1999) como um conjunto de fatos (históricos, enunciativos, administrativos) que vêm constituir o dizer “centro da cidade”, estabelecendo suas relações com o movimento do consumo. Vale salientar que pensamos a noção de consumo como um gesto que se constitui na relação entre sujeitos e mercado (CARROZZA, 2011). Nessa perspectiva, há a necessidade de se pensarem, também, as práticas relacionadas ao comércio, tanto em nível mercadológico, quanto naquilo que representa o político que institui novas possibilidades no espaço da cidade.
Pouso Alegre teve sua origem como um ponto de parada das bandeiras paulistas que seguiam para Minas Gerais. Em 1797, era um pequeno arraial, às margens do rio Mandu, recebia os bandeirantes que descansavam para seguir viagem. Diz-se que o nome se deve ao Governador transferido para a Capitania de Minas, D. Bernardo José de Lorena, Conde de Sarzedas que, juntamente ao Juiz de Fora da Campanha, Dr. José Carneiro de Miranda, ao pernoitar no pequeno povoado nomeado de Mandu naquela época, dissera que o lugar devia se chamar Pouso Alegre[4].
Em 1810, o arraial foi elevado à categoria de Freguesia. Em 1831, à categoria de Vila e em 1848, à categoria de Cidade. Tais fatos, apontados cronologicamente, já nos


[3] Este artigo apresenta resultados de trabalho realizado como participantes do Projeto “Discurso, Individuação do Sujeito e Processos Identitários – espaço, acontecimento e memória no Sul Mineiro”, coordenado na Univás pela Profa. Eni Orlandi. Nossa pesquisa se propôs um estudo sobre uma avenida e seu sentido nos processos identitários da região do sul de Minas, onde se localiza a cidade de Pouso Alegre.
[4] De acordo com a compilação “Pouso Alegre através dos Tempos: sequência histórica.” Do Museu Histórico Municipal “Tuany Toledo”, coordenada por Alexandre Araújo e publicada pela Câmara Municipal de Pouso Alegre.