Revista Rua


Consumo, Espaço e Memória
Consumption, public space and memory

Guilherme Carrozza e Andrea S. Domingues

 

Dos anúncios apresentados, grande parte se refere a estabelecimentos instalados na Avenida Doutor Lisboa – 16 anúncios do total de 51 (o restante, de estabelecimentos espalhados em outras ruas e praças da cidade, a maioria delas, próximas à avenida). Essa regularidade de anúncios de estabelecimentos na mesma avenida já nos aponta para a produção de um sentido para ela, como o local onde tudo (ou quase tudo) está.
Dois deles, particularmente, nos chamam a atenção:
 


Figura 9 – Fonte: Revista Acaiaca – Pouso Alegre (1951)
 


Figura 10 – Fonte: Revista Acaiaca – Pouso Alegre (1951)
 
O primeiro, por se referir à Avenida Doutor Lisboa como simplesmente “Avenida”. O segundo, por acrescentar um sintagma explicativo a ela – “no coração da cidade”.
Nota-se aí um deslizamento que aponta para algo que vimos tentando demonstrar: o efeito de “naturalização” da avenida enquanto centro (referido já ao movimento do mercado).
Pouso Alegre, em 1951, já possuía outras avenidas que foram se constituindo com o crescimento da cidade. Assim, indicar o endereço em um anúncio como simplesmente “Avenida”, poderia se referir a qualquer uma, mas isso não acontece. O sentido é já determinado. No nosso ponto de vista, essa é uma marca de que a Avenida Doutor Lisboa já se constituía, àquela época, como o centro do comércio da cidade. Trata-se de pensar na Doutor Lisboa como “a” avenida da cidade, ou seja, num trabalho ideológico que a determina.
Aliado a isso, vê-se a designação “coração da cidade” sendo associada à Avenida Doutor Lisboa. “Coração”: o centro do corpo, de onde pulsam as atividades que o sustentam. Corpo parafraseando a cidade. Coração parafraseando o centro.