Revista Rua


Consumo, Espaço e Memória
Consumption, public space and memory

Guilherme Carrozza e Andrea S. Domingues

 

Propomos, então, uma análise de determinados enunciados que, em conjunto, produzem um lugar temático de significação[5] que faz emergirem sentidos ligados ao crescimento, desenvolvimento, modernidade referenciados à cidade de Pouso Alegre, e que também, de certa forma, fazem convergir tais sentidos à sua avenida principal. Nessa perspectiva é que, entendemos, o centro da cidade se constitui, não apenas por ser nomeado dessa maneira, mas principalmente por que, na forma de se dizer a cidade são estabelecidas as formulações que produzem a relação espaço/quantidade/completude.
Isso representa um acontecimento discursivo constituído por uma série de enunciados e fatos ao longo da história da cidade. Trata-se de pensar, dessa forma, numa série constituída por jogos de enunciados; de efeitos de memória; de retomadas e de deslocamentos, que regulam a série do repetível e instauram um determinado sentido para este espaço.
 
Progresso, desenvolvimento e completude: os sentidos do centro
 
Começaríamos dizendo que o próprio sentido de centro, referido à cidade, se inscreve num discurso urbanístico que tem, em sua constituição, noções relativas à “organização”, “modernização” e “crescimento” e que, na ordem de um discurso positivista, estabelece suas relações com o progresso. Nessa perspectiva, “tornar-se um centro” significaria “ser desenvolvido” e completo.
Em janeiro de 1900, foi publicado o Almanack do Município de Pouso Alegre que ao descrever a cidade, o faz produzindo um efeito de que a tendência ao crescimento é algo presente na sua constituição.
 
(...) o municipio de Pouso Alegre [...] essa bella terra que de anno a anno duplica em população e em commercio [...]do municipio de Pouso Alegre, as suas riquezas naturaes, a uberdade das suas terras, a sua lavoura e, assim, attrahir para elle o elemento estrangeiro que concorrerá, por certo, para a sua maior prosperidade. [...]uma cidade como Pouso Alegre, cujo movimento tende sempre a augmentar ( ...) (Almanack, p.82)
(...) não deve, porém, estar longe o dia em que Pouso Alegre terá, como terão muitas outras cidades do sul de Minas, a sua época de prosperidade industrial: é uma questão de tempo. (Almanack, 1900 .p. 92) (grifos nossos)
 


[5] Fazemos aqui referência à noção de sítio de significação, já apresentada por Orlandi (2004).