Revista Rua


Consumo, Espaço e Memória
Consumption, public space and memory

Guilherme Carrozza e Andrea S. Domingues

 

“principal” porque representava, geograficamente, uma via de ligação entre dois pontos importantes da cidade.
Em 1931, o Prefeito João Beraldo, propôs um trabalho de “remodelação” da Avenida Doutor Lisboa (nomeada dessa forma a partir de 1916), como pode ser observado no relatório de sua gestão, publicado em 1933.
 
Quando deputado ao Congresso do Estado, consegui do Governo de Minas, de 1928 para 1929, que se mandasse construir a nossa atual cadeia publica. Dois objetivos tive, então, em vista: remover do centro da cidade um edifício que ali não ficava bem e conseguir um grande auxilio para o desejado prolongamento da nossa linda Avenida. [...] Essa iniciativa é hoje uma consoladora realidade. Foi esse, sem duvida, um plano inteligente e feliz, do qual resultou: a construção de uma cadeia nova, em local apropriado [...]dotando a cidade de magníficos e modernos prédios, inclusive um grande hotel, melhoramento de que tanto se ressentia a nossa cidade [...]; a desapropriação de um quarteirão para o prolongamento da Avenida Dr. Lisboa [...]Quando completar a construção da praça e do quarteirão, ficará a cidade dotada de mais cerca de 20 predios ótimos e modernos. Esse novo quarteirão, além de constituir um trecho que põe em relevo a beleza da nossa cidade, ai ficará como marco de uma época de intenso progresso por ela vivido.  (Relatório de Gestão, Pouso Alegre, 1927-1932) (grifos nossos)
 
O Prefeito João Beraldo promoveu uma espécie de política de higienização, retirando da Avenida Dr. Lisboa o que, para ele, era “estranho” ao lugar (a cadeia). A retirada da Cadeia Pública de um local que se pretendia “modernizar” representa, na nossa perspectiva, uma política de administração da memória. A modernidade e o progresso não aceitam o “erro”. Assim, só seriam possíveis na ausência total – já que foi demolido – de um prédio que pudesse mobilizar os sentidos ligados à marginalização social. Movimento interessante: tira-se o que representa o marginal na sociedade e, ao mesmo tempo, reforça-se o sentido de centro. Em outra passagem do relatório, salienta:
 
[...] E o fruto dessa iniciativa logo surgiu com a apresentação de uma cidade renovada e confortável despertando entusiasmo e a admiração de quantos, dela conhecidos, não a visitavam, há alguns anos, e de quantos a têm conhecido nestes últimos tempos. (idem) (grifos nossos)
 
Este acontecimento, ao que parece, abriu novas possibilidades para a avenida, instaurando nela um caráter de modernidade o que surtiu seus efeitos, pelo menos no que relaciona o espaço ao comércio.
Em 1951, 20 anos após essa política de reestruturação da Avenida, outra revista sobre Pouso Alegre – Revista Acaiaca apresenta uma situação relacionada ao comércio bastante diferente do Almanack de 1900. Além de trazer anúncios em quantidade maior, percebe-se um deslocamento espacial dos estabelecimentos: