Revista Rua


A patrimonialização do cotidiano: desafios para as políticas públicas
The diurnal heritage: challenges for public policies

Fabíola Rodrigues

 

Em Campinas, o primeiro tombamento do órgão municipal (CONDEPACC) destinado a salvaguardar um bem cultural em virtude de sua importância como “documento” do mundo do trabalho e da produção fabril - portanto, como espaço de práticas do cotidiano – foi o referente ao Complexo Ferroviário Central da FEPASA, sito à Praça Marechal Floriano Peixoto s/nº (Processo de Tombamento nº 04/1989; Resolução de Tombamento nº 004/1990).
Nesse tombamento, em que o bem protegido passou a ser tratado (ao menos, teoricamente) de uma perspectiva mais abrangente em virtude de suas características de complexo produtivo – em que pese a ainda sensível importância da relevância arquitetônica como critério de seleção dos edifícios protegidos pelo tombamento, em detrimento de uma leitura mais orgânica do bem, atenta às suas particularidades de planta produtiva (FRANCISCO, 2007) – o Colegiado de Campinas sinalizou para o reconhecimento formal da legitimidade dos testemunhos materiais do “mundo fabril” como passíveis de patrimonialização.
Figura 01. Estação Ferroviária da antiga Companhia Paulista (atual Estação Cultura)
Fonte: Acervo da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), 2010.
 
Decorridos mais de vinte anos desse tombamento pioneiro, a prática patrimonial em Campinas ainda enfrenta dificuldades para avançar na preservação de edifícios não excepcionais, que interessam como bens culturais por sua importância como testemunhos ou suportes de técnicas, processos, ofícios, maquinários, ferramentas, ou ainda, por sua significação simbólica e afetiva para grupos sociais específicos, não raras vezes, socialmente modestos.