Revista Rua


A patrimonialização do cotidiano: desafios para as políticas públicas
The diurnal heritage: challenges for public policies

Fabíola Rodrigues

 

Figura 4: Imóvel da Vila Manoel Dias, escorado, já sob risco iminente de desabamento.
Fonte: Acervo da CSPC, 2010.
 
Essa arquitetura “banal”, encravada no espaço banal (SANTOS, 1999), inacreditável sobrevivente dos processos de destruição/reconstrução do tecido urbano, assume relevância por sua capacidade de testemunhar o modo de vida dos pobres; nesse sentido, sua salvaguarda torna possível uma espécie de “arqueologia da pobreza”, pois seu registro sistemático e continuado no tempo permitirá recompor os intrincados processos de produção social do espaço urbano, calcados na permanente, contínua e radial expulsão da pobreza para as franjas longínquas, desvalorizadas e insalubres da cidade.
Nesse sentido, o inventário das vilas operárias, desenvolvido pela equipe técnica da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), lança luz sobre um fenômeno de dupla face: primeiramente, a identificação, o registro e a possível adoção de medidas de salvaguarda dos testemunhos materiais das camadas populares – em especial, de certos segmentos da classe trabalhadora, a exemplo dos ferroviários – sinaliza para uma verdadeira democratização da política patrimonial, visto que incorpora no conjunto de bens passíveis de patrimonialização testemunhos materiais do modo de vida de grupos diferentes daqueles politica e economicamente mais importantes, legitimando seus artefatos culturais como relevantes para a memória social urbana.