Revista Rua


A patrimonialização do cotidiano: desafios para as políticas públicas
The diurnal heritage: challenges for public policies

Fabíola Rodrigues

 

importantes, legitimando seus artefatos culturais como relevantes para a memória social urbana.
Um segundo aspecto a ser considerado é que ao eleger a arquitetura não canônica e não excepcional das classes trabalhadoras, o inventário e seus possíveis resultados iluminam as características do modo de construir e de morar das camadas populares, realçando um aspecto da arquitetura frequentemente negligenciado pelas práticas patrimoniais, ou seja, sua condição de suporte material das formas de existir e de ocupar, produzir e reproduzir o espaço associados a determinado segmento social ou a certa temporalidade histórica.
Essas observações apontam para uma dimensão de “justiça social” que pode ser reputada à política patrimonial à medida que ela se compromete, verdadeiramente, com a proteção de bens culturais diversos que, mobilizando afetos e legitimando a significação simbólica dos artefatos culturais dos múltiplos grupos sociais em relação (e em disputa) no e pelo espaço urbano, tornam-se geradores ou reforçadores de vínculos de pertencimento de indivíduos e grupos com a própria cidade.
Nesse sentido, democratizar a política e as práticas de proteção e de gestão do patrimônio cultural importa, também, alargar o alcance dos mecanismos tradicionais de salvaguarda dos bens de interesse patrimonial, associando-os a outros instrumentos de promoção da justiça social urbana, já que o direito ao passado e à memória – e mais ainda quando se trata de grupos socialmente vulneráveis – não pode ser dissociado do direito a um presente de dignidade material e de reconhecimento simbólico.
 
Referências Bibliográficas:
 
BAENINGER, Rosana. 1996. Espaço e Tempo em Campinas. Migrantes e a Expansão do Pólo Industrial Paulista. Campinas, Editora da Unicamp.
 
CHOAY, Françoise. 2009. Le patrimoine en question: anthologie por un combat. Paris: Seuil
 
________ 2001. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: UNESP
 
COORDENADORIA Setorial do Patrimônio Cultural. 2011. Ata da Reunião do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas nº 395. Campinas, Prefeitura de Campinas.
 
________ 2009. Inventário das Vilas Operárias de Campinas (1930-1960). Fase- I. Relatório de Pesquisa. Campinas, Prefeitura Municipal de Campinas.