Revista Rua


A fábula da origem
The fable of the origin

Renato Salgado de Melo Oliveira

Introdução em três fábulas sem nomes[1]
Primeira fábula:
            “A verdade? A verdade mesmo pouco importa, afinal não é sobre ela de que se tratam as histórias”. Respondeu o lobo sentado naquela poltrona marrom, de couro, a luz iluminava pouco mais que o seu rosto, de seu corpo era perceptível apenas a silhueta de suas pernas cruzadas e a sombra do balançar de seu pé suspenso. Assim era impossível continuar a entrevista, o cientista já estava passando de seu limite e o prazo final chegando ao dele. Quando se propôs a investigar a origem daquele conto infantil achou que seria bem mais fácil do que isso, uns documentos antigos, alguns testemunhos perdidos e uma boa dose de metodologia poderiam resolver a questão. No entanto, o cinismo do lobo tornava tudo ainda mais insuportável, não que esse fosse o único problema, nada tinha dado certo desde que começara, porém aquela entrevista, conquistada de última hora, poderia salvar tudo, já o cinismo do lobo atrapalhava qualquer pesquisa.
 
Segunda fábula:
            Concluiu com alívio. Suas últimas palavras foram soltas com um gesto de se ajeitar na cadeira. As apresentações sempre o deixavam um pouco nervoso e a frequência não parecia diminuir a sensação. Agora era só distribuir o jogo que preparara com antecedência para aquela ocasião, e pronto... missão cumprida. A missão era se debater com o filme Narradores de Javé[2], e o que mais o provocava em tudo aquilo era uma vontade, desprovida de dono, de contar a história da origem ou da fundação. A busca pelo contar da verdade onde ela estaria preservada em seu sentido autêntico. Depois de tanto se debater, o estudante optou por criar um jogo narrativo (como tantos


[1] Este artigo faz parte da minha dissertação de mestrado – Histórias do mar: divagação científica, biotecnologias e RPG (2011) – desenvolvida no âmbito do grupo de pesquisa multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências e educações (CNPq, líderes Susana Dias e Elenise Andrade) e do projeto de pesquisa “Escritas, imagens e ciências em ritmos de fabul-ação: o que pode a divulg-ação científica?” (MCT/CNPq nº 478004/2009-5), coordenado pelos professores doutores Carlos Vogt, Susana Dias e Elenise Andrade e que reúne alunos, artistas e pesquisadores do Labjor e Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, e o Departamento de Educação (Dedu) da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).
[2] Filme brasileiro de 2003, dirigido por Eliane Caffé que movimentou o convite para as apresentações no evento O que pode um cotidiano que divaga ao fabular? Com-fabulação... Ex-pressão... O evento ocorreu na Universidade Estadual de Feira de Santana entre os dias 2 e 4 de setembro de 2010, com o apoio da Fapesb, CNPq, MCT e Capes e foi promovido pelo Grupo de Pesquisa multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências e educações (CNPq) e projetos: “Escritas, imagens e ciências em ritmos de fabul-ação: o que pode a divulg-ação científica?” (MCT/CNPq nº 478004/2009-5), desenvolvido pelo Labjor-FE/Unicamp e Uefs; e “Olhares cotidianos da certificação Turismo CO2 neutro: logos e grafias de uma transformação na APA Itacaré/Serra Grande/BA” (Fapesb), envolvendo a Uefs, Uesc, F.E. e Labjor da Unicamp e UdG (Universidade de Girona).