Revista Rua


A fábula da origem
The fable of the origin

Renato Salgado de Melo Oliveira

8
A poeira é grossa como um pano, você tenta espanar com as mãos mas é inútil, além de te sujar completamente. O baú tem um trinco antigo que aparenta estar fechado, você tenta forçar com os dedos... [pegue uma moeda e jogue cara ou coroa, em caso de cara, vá para 11, em caso de coroa, vá para 12].
 
9
Com certeza uma conversa com um vizinho antigo é a forma mais rápida de você descobrir algo sobre seu pai, assim sobra muito tempo para curtir o resto das férias na Cidade. O Lenhador mora a apenas cinco casas de distância da sua, você parte empolgada esperando voltar mais rápido que a sua mãe e ter tempo para fazer as malas para a viagem. A casa do Lenhador é de madeira (como todas na vila) e há um Chevrolet antigo parado na garagem. O jardim é muito bem aparado e discreto, na frente da casa há um estandarte com a bandeira de Conto de Fadas tremulando.
Você aperta a campainha e um barulho de cuco holandês ressoa dentro da casa, logo em seguida ouve passos e a maçaneta girando. O Lenhador está diante da porta, cabelo cortado em cuia, músculos enormes e a velha roupa xadrez. “O que deseja Chapeuzinho? Não vá me dizer que viu o Lobo por aí”, diz o homem com muita cordialidade e uma risada sincera no final. “Nada não, você responde, só queria fazer algumas perguntas sobre o meu pai, sabe? O senhor ‘conheceu ele’, não?”. O Lenhador solta um forte suspiro e abre espaço para a moça entrar. “Sente-se naquele sofá, vou trazer algo para bebermos”, você agradece e vai se sentar olhando os troféus de caça dele, diversas cabeças de árvores penduradas na casa, heroico, mas de certo mau gosto. O Lenhador chega com dois copos enormes de suco de laranja e gelo. Antes que você comece a falar algo ele logo diz: