Revista Rua


Personagens nas ruas do Rio de Janeiro do século XIX: leitura de A moreninha (1844) e O moço loiro (1845), de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)
Characters in the streets of Rio de Janeiro of the nineteenth century: a reading of A moreninha (1844) and O moço loiro (1845), by Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)

Joelma Santana Siqueira

“efetivamente representa a antítese do próprio nome” (ML, p.11). Esta rua, informou Macedo em suas Memórias da Rua do Ouvidor, foi a principal e mais rica do comércio, abrigando as modistas francesas até que se mudassem para a obscura Rua do Ouvidor, por volta de 1821-22. No momento em que a narrativa começa, a Rua do Ouvidor já tem a sua importância e o narrador nos conta que Brás Mimoso, personagem solteirão e galanteador, “frequenta muito a Rua do Ouvidor, sabe de modas e de vestidos como Mme Gudin, de flores como Mme Finot, de cosméticos e pomadas como Mme  Desmarais” (ML, p.25).
O hábito das moças de portarem-se à janela recebe uma longa reflexão do narrador de O moço loiro. Na passagem abaixo, ele ironiza a moça que fica de janela:
 
Uma moça loureira, que está de janela, e que é do número dessas que sabem estar de janela, põe em ação a ciência mais difícil do mundo, e que é ao mesmo tempo tão positiva como a matemática, e tão cheia de – coisas nenhumas –, como a diplomacia: ela tem a vista tão segura, que pelo menear da bengalinha conhece o jovem, que vem do princípio da rua... (MACEDO, 1981, p.54).
 
O narrador refere-se aos significados atribuídos às reações das janeleiras ao verem um jovem mancebo atravessar a rua. Porém, a condição da mulher na sociedade é um assunto discutido principalmente pela personagem Raquel, jovem amiga de Honorina para quem o pai fez questão de revelar as artimanhas dos homens frequentadores de saraus, falsos conquistadores do coração feminino. Raquel ensina a Honorina que o fim da mulher é o casamento e esse está garantido para as belas e principalmente ricas como elas. Com ironia, comunica à amiga que
 
a senhora de grande dote  é o amor... o cálculo do futuro; a bela jovem de fracos teres é o amor... o passatempo do presente: vivemos em um século de frias ideias, em uma época de algarismos; tudo é positivo... o comércio tem invadido tudo: negocia-se também com o sentimento (MACEDO, 1981. p.33).
 
O segundo romance de Macedo pode ser considerado um romance de mistério. Um crime foi cometido, o roubo de uma relíquia de família, e será desvendando no final. Mas a esse mistério vem juntar-se outro: o de um moço loiro, misterioso, a cortejar a jovem Honorina, filha de Hugo de Mendonça, a quem seria destinada a relíquia roubada.
Observa-se a presença dos escravos domésticos, com destaque para Lúcia, ama de Lauro, o primo de Honorina acusado de roubo pela família. Há a menção à importação de escravos por parte do falecido pai de Hugo de Mendonça, que entrou “em