Revista Rua


Personagens nas ruas do Rio de Janeiro do século XIX: leitura de A moreninha (1844) e O moço loiro (1845), de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)
Characters in the streets of Rio de Janeiro of the nineteenth century: a reading of A moreninha (1844) and O moço loiro (1845), by Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)

Joelma Santana Siqueira

dedicadas ao Passeio Público são concluídas com a tristeza de não vê-lo inaugurado depois de mais uma vez necessitar de reformas que, às vezes, terminam, opinião de Macedo, “com a profanação da arte”. A reinauguração do Passeio, como informa Diogo de Hollanda, responsável pelas notas que acompanham a edição aqui consultada, publicada pela Editora Planeja em 2004, “ocorreria apenas em 07 de setembro de 1962, 40o aniversário da Independência”.
Nos dois primeiros romances do escritor, os escravos são personagens que servem aos brancos e à narrativa. Exercem função importante para o desenvolvimento da trama, a exemplo de Lúcia, do romance Os dois amores, que é ama e ajudante secreta indispensável para manutenção do mistério e do sucesso final do moço loiro. Macedo apenas começou a situar seus personagens no espaço público, coisa que fará com mais intensidade em seu terceiro romance, Os dois amores (1848), que aborda a história de amor entre um jovem pobre e uma jovem rica, ambos morando um ao lado do outro, ele em uma casa muito pobre e feia, odiada pelos vizinhos, e ela em uma casa rica, querida de todos no Bairro da Lapa do Desterro. O escritor também apenas tocou em questões políticas que serão mais esmiuçadas na obra A luneta mágica (1969), narrativa na qual um personagem míope obterá uma luneta que o levará a perceber os sentidos das coisas além das aparências. E, por fim, a escravidão foi focaliza nos dois primeiros romances do escritor, mas será aprofundada na obra As vítimas algozes (1969), que no título sintetiza a condição do escravo no seio da sociedade burguesa.
Nos dias atuais, a leitura das duas obras iniciais do escritor, além de importante para os estudiosos da literatura brasileira, no sentido de nos permitir rever noções cristalizadas pela crítica a respeito do romance brasileiro no seu nascedouro, é importante também para outros estudiosos da cultura, por permitir ao leitor observar que a ficção dialoga com muitos aspectos contraditórios da sociedade brasileira do século XIX, nem sempre observados à primeira vista.
 
 
Referências bibliográficas
ASSIS, Machado. “Instinto de nacionalidade”. Disponível em http://www.ufrgs.br/cdrom/assis/massis.pdf. Acesso em 19 de maio de 2010.
CANDIDO, Antonio. 2000. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. vol. II 6 ed. Belos Horizontes: Itatiaia.