Revista Rua


Cidades de vidro: das galerias de vidro parisienses às galerias das câmeras de vigilância
Glass cities: from the parisian glass galleries to the surveillance cameras galleries

Eliana Monteiro

Essas imagens, ao serem exibidas nos telejornais, expandem este olhar de vigilância a um grande público. Deste modo, o espectador parece experimentar na atualidade a passagem de um olhar treinado pela televisão clássica para um outro olhar - que surge com o uso dos novos dispositivos tecnológicos de visibilidade -, capaz de tirar esse espectador do lugar confortável de assistente do acontecido para o lugar de vigia do acontecendo. Este processo conduz o espectador a fazer novas leituras dos espaços públicos da cidade que são marcados pelas câmeras de vigilância.
Quando Benjamin fala sobre as Passagens construídas em Paris, no ano de 1852, as descreve como
 
 (...) galerias cobertas de vidro e com paredes revestidas em mármore que atravessam quarteirões inteiros (...). Em ambos os lados dessas galerias, que recebem luz do alto, alinham-se as lojas mais elegantes, de modo que tal passagem é uma cidade (...). São elas o refúgio para todos que são pegos desprevenidos. Garantindo um passeio seguro, porém restrito, do qual os comerciantes também tiram suas vantagens. (BENJAMIN, 2006, p.77-78)
 
Assim como as passagens envidraçadas construídas na cidade de Paris ao final do século XIX anunciavam aos seus moradores e visitantes uma cidade em processo de transformação arquitetônica, as câmeras de vigilância hoje espalhadas nas principais ruas e avenidas dos grandes centros urbanos parecem anunciar de certa maneira, através de seus corredores formados por suas lentes de vidro invisíveis, as novas passagens do século XXI. Deste modo, a arquitetura urbana atual, ao integrar-se a uma topologia eletrônica, perde uma inscrição espacial anterior e passa a se constituir “nas sequências de uma planificação imperceptível do tempo na qual a interface homem/máquina toma o lugar das fachadas dos imóveis, das superfícies dos loteamentos” (VIRILIO, 1993, p.10). Virílio diz ainda que:
 
A representação da cidade contemporânea, portanto, não é mais determinada pelo cerimonial da abertura das portas, o ritual das procissões, dos desfiles, a sucessão de ruas e das avenidas: a arquitetura urbana deve, a partir de agora, relacionar-se com a abertura de um “espaço- tempo tecnológico”.(Op. Cit.)
 
A cidade de Nova York parece ser um bom exemplo da existência destas passagens. Recentemente foi divulgado que Nova York (MARTINS, 2007, p.27) (hoje