Revista Rua


Cidades de vidro: das galerias de vidro parisienses às galerias das câmeras de vigilância
Glass cities: from the parisian glass galleries to the surveillance cameras galleries

Eliana Monteiro

O vídeo mostra o instante exato em que o avião toca a pista e os três segundos seguintes em que a aeronave desliza em direção ao seu final para, em seguida, chocar-se contra o prédio próximo ao aeroporto; neste momento avista-se na tela o clarão da explosão. São imagens que além de trazerem ao espectador a “certeza de que a cena aconteceu”, dão transparência, através do seu fluxo, a “como ela aconteceu”.
             “Poderia se imaginar uma espécie de lei: quanto mais o trauma é direto, tanto mais difícil é a conotação; ou ainda: o efeito “mitológico de uma fotografia é inversamente proporcional á seu efeito traumático.” (BARTHES, Ibidem)
 Deste modo, a cada exibição destas imagens, o espectador é transportado ao presente - vivo direto da tragédia, constituído na seqüência temporal intrínseca ao interior da própria tragédia (antes do clarão da explosão, o avião percorre velozmente a pista por três segundos), portanto a cada exibição, a tragédia se repete, se perpetua, inexoravelmente e nada há a fazer nem a dizer.
Há, porém, diferenças fundamentais entre as imagens traumáticas fotográficas mostradas por Barthes e as imagens traumáticas capturadas pelas câmeras de vigilância: a primeira, para ser capturada, exige que o fotógrafo estivesse no local e no instante do acontecimento, enquanto que a segunda exige apenas a presença da câmera. Muito embora as duas sejam mediadas por câmeras, elas se caracterizam de modos diferentes: uma através do olhar do fotógrafo que faz a “leitura” da cena no momento de sua captura, enquanto que na outra a “leitura” é banida, indicando ao espectador a ausência de um olho leitor no momento de sua captação. Portanto o que o jornalismo televisivo na atualidade está fundando, ao inserir estas imagens nos telejornais, é criar aos olhos do espectador uma rotina de “ver” através daquilo que não era visto. A questão, portanto, que se apresenta não é mais tanto saber de que maneira a realidade cotidiana é retrabalhada nas ilhas de edição antes de chegar às telas da televisão, mas sim, o que esta sendo ocultado.
 
O OLHO OBSERVADOR: IDENTIDADE E FLUXO
 
As imagens das câmeras de vigilância, ao passarem ao largo da leitura da cena, colocam o espectador de TV em contato com outra visibilidade do mundo. Um dos principais aspectos desta nova configuração está na ruptura do olhar tradicional em que, ao captar a cena, o indivíduo toma como referência a relação do seu olho com os olhos dos personagens envolvidos nela, isto é, a cena é capturada a partir da altura de quem