Revista Rua


Cidades de vidro: das galerias de vidro parisienses às galerias das câmeras de vigilância
Glass cities: from the parisian glass galleries to the surveillance cameras galleries

Eliana Monteiro

olha e de quem é olhado. Sendo assim, podemos dizer que a imagem tradicionalmente capturada pelo fotógrafo ou cinegrafista, tinha como primeira função identificar aqueles que estavam diretamente envolvidos na cena:
 
durante todo o século XIX (e início do XX) a fotografia foi usada tanto como meio de identificação quanto meio para reunir evidências do crime. A coleção de retratos de criminosos presos começou logo após a invenção da fotografia (...). A apreensão de criminosos (...), quase sempre dependeu de seu reconhecimento nessas fotografias. (GUNNING, 2004, p.33)
 
 
A imagem fotográfica criminal, portanto, busca desde sua origem identificar fisionomicamente os indivíduos e para isso as fotos eram afixadas nas rougues galleries, (Ibidem, p.43) espaços (montados pelo departamento de polícia francesa) onde eram expostas publicamente as coleções de fotos dos “malfeitores e foragidos” da lei.[2]
 
 A exibição pública de retratos de criminosos profissionais (que buscavam anonimato e segredo) tornou-se uma das formas mais populares de galerias fotográficas, com pessoas afluindo a elas como se fossem pontos turísticos da cidade (...). (Ibidem
 
 
Desse modo, talvez se possa traçar um paralelo entre a exibição das fotos dos criminosos expostas nas galerias e que, devido ao grande número de visitantes, ganhavam popularidade, e as imagens das ações criminosas captadas hoje através das câmeras de vigilância, e que se tornam populares aos serem expostas, a uma grande audiência, através da tela da TV. Em ambos os casos, há grande afluência de público: nas antigas galerias para ver os rostos dos criminosos e na televisão para ver as ações deles.
 Há, porém, uma diferença entre as primeiras intenções da fotografia e as imagens de vigilância: enquanto a fotografia buscava a identidade do criminoso, a segunda busca inicialmente a sua ação criminosa. Gunning (Ibidem, p.37) conta que a


[2] É bom observar que os registros fotográficos destes indivíduos não eram realizados facilmente pelo departamento de policia, os criminosos resistiam com vários mecanismos ao registro de suas imagens. Eles (como relata Gunning, em O retrato do Corpo Humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema que pousavam, para estes retratos) “distorciam suas expressões faciais na esperança de impedir a identificação das fotografias (...) fazendo caretas bizarras”. Hoje a resistência à identificação dos traços fisionômicos dos indivíduos passa pelo uso de capuz que encobrem as laterais da face ocultando o seu reconhecimento bem como o uso das “máscaras ninjas” (toucas que deixam somente os olhos descobertos).