Revista Rua


Dos olhos aos olhares, de Javé a Taboquinhas, uma mesma Bahia a fabular imagens na busca por escrever livros e perpetuar memórias
From the eyes to the views, from Javé to Taboquinhas, only one Bahia writing a fable with images in pursuit for writing books and perpetuate memories

José de Barros Pinto Filho, Eva Arbat Baú, Tiago Tombini da Silveira

território e de um cotidiano que se adapta à modernização do campo, mas que não se esquecem de suas estórias, pois marcas de nascença são deixadas para a vida.
Esses agricultores e os demais que participam do projeto “Olhares Cotidianos...” nos fazem refletir que a nascença de um olho d’água, quando seu lagrimar é de pura devoção, se torna um ponto de ebulição futura, e que são nessas fontes que se poderão beber e saciar a sede de saberes tradicionais e mesmo de educação.
 
Correnteza de natureza humana
O rio que se represou em Javé pode muito bem ser o rio de Contas, de nascente na Chapada Diamantina, que perpassa por Taboquinhas e ganha o mar na fímbria de Itacaré. Miguel Bonfim de Souza nos contou que nestes tempos, não tão remotos, foi realizada uma reunião com a presença da população em geral, de entidades da sociedade civil, e também do poder público local e estadual. Ao que Miguel nos conta, pretendem construir uma barragem no rio de Contas, próxima ao distrito de Taboquinhas, com a intenção de gerar energia, prevendo inundar algumas áreas de comunidades da região. Ao rememorarmos o filme, consta uma placa com parte dos dizeres explicitando: Programa de Geração de Energia no Estado da Bahia, e logo abaixo, Construção da Barragem do Vale de Javé. Esperamos não encontrar, em um dia desses neste rincão baiano, uma placa na beira da estrada de chão, em letras eletrizantes, anunciando a construção da Barragem de Taboquinhas.
O interessante a refletir, a partir do que Miguel nos conta e do que se apresenta como novo devir ao território, é que os olhares locais das famílias de agricultores tradicionais da região de Taboquinhas se encontram em transição, mas que em sua maioria ainda estão muito mais abertos aos ciclos da natureza em suas estações, cuja velocidade acompanha a espera, a paciência, uma continuidade de dar tempo ao tempo; enquanto que se pensarmos noutro prisma, aos olhares da globalização, dos homens do tempo rápido, dos engenheiros de Narradores de Javé, quase sempre acelerados pelas necessidades do território adaptar-se a eles, parecem estar orientados pelos ciclos das estações em sua natureza econômica, e as velocidades dos seus olhares seria o mesmo das “novas tecnologias da informação” (CASTELLS, 2000), impensáveis sem as grandes infra-estruturas territoriais, como as barragens geradoras de energia elétrica, que alteram as paisagens e participam na produção de uma racionalidade que intensifica o processo de “alienação do território”(CATAIA, 2003). 
Atravessando de margem como se atravessando uma rua de um cruzamento, pulando de esquina, mas ainda na encruzilhada fabulada para esta tentativa de