Revista Rua


Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de uma cidade deteriorada
Wonderful City and Divided City: Notes on the Management of Spoiled City

Aline Gama de Almeida, Alberto Lopes Najar

A “Cidade Maravilhosa” 
Desde os primeiros relatos de viajantes e colonizadores europeus, podem-se observar inúmeras descrições da cidade do Rio de Janeiro relacionadas às belezas naturais e questões humanas. Com o surgimento da favela no fim do século XIX e início do XX e a permanência desta como forma de ocupação do espaço urbano até os dias de hoje, a cidade ganhou características que se relacionam a esse tipo de moradia.
A construção do imaginário, ora atrelado à conformação humana, social e cultural, ora à benemerência local dada pela paisagem e pela natureza, fez com que os epítetos da cidade do Rio de Janeiro remetessem a essas características. A “Cidade Maravilhosa” e a “Cidade Partida” são apelidos cunhados ao longo do século XX quando a cidade passa pelo processo de modernização e inserção do modo de produção capitalista, que se mantêm através de mudanças sociais, econômicas e tecnológicas. 
A origem da expressão “Cidade Maravilhosa” tem dupla autoria, mas supomos que o surgimento deveu-se às representações sociais e históricas reforçadas por aqueles que habitavam e visitavam a cidade do Rio de Janeiro. A idéia de um Éden Tropical, que escritores do início do século XX usaram para descrever a cidade, é herança da percepção da colonização a respeito das belezas naturais (praias, lagoas, montanhas, temperatura amena e florestas).
Entre 1903 e 1906, a cidade foi reconstruida em uma grande primeira reforma urbana, assinada pelo prefeito Pereira Passos. A Reforma abre os tempos eufóricos de uma Belle Époque à moda brasileira, modernizando e inserindo a cidade no comércio internacional. O termo “Cidade Maravilhosa” foi usado primeiramente pela poetisa francesa Jeanne Catulle-Mendès (CARVALHO, 1989; GOMES, 1994 e LEITE, 1998), que visitou a cidade em novembro de 1911.
O livro “La Ville Merveilleuse(MENDÈS, 1913)reúne uma série de poemas que narram a estadia da poetisa, obedecendo a uma ordem cronológica desde a sua chegada “Arrive dans La Baie de Guanabara”, passando por “Salut”, depois menciona os passeios a beiramar, a beleza das árvores, flores e orquídeas; a noite, “La Bibliotheque”, até a sua despedida da cidade com o poema “Adieu”. Todos exaltam a