Revista Rua


Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de uma cidade deteriorada
Wonderful City and Divided City: Notes on the Management of Spoiled City

Aline Gama de Almeida, Alberto Lopes Najar

e repleta de belezas naturais, que vai nortear o imaginário a respeito do Rio, legitimando a crítica e o controle (PECHMAN, 1992).
Considerado por alguns autores como o Haussmann à carioca, Pereira Passos proporciona três grandes mudanças do espaço social: a nova organização social que vai determinar as novas funções da cidade, já incipientes com a industrialização; o primeiro exemplo de intervenção do Estado sobre o urbano sob bases econômicas e ideológicas capitalistas; e também o resultado das contradições do espaço que, ao serem resolvidas, geraram outras contradições, como as novas construções populares favelas e cortiços que vão marcar a imagem da cidade. É nessa época que as camadas populares começaram a se revoltar (SANTUCCI, 2008) e recebem a caracterização efetiva de classe perigosa (VALLADARES, 1991).
 
Maravilhosa” & “Partida”: notas sobre a manipulação da cidade deteriorada
 
As favelas atravessam o século assombrando a imagem da cidade que se quer "Maravilhosa”. A violência, a desordem e as favelas, significantes máximos da semântica de uma “Cidade Partida”, ora são objetos de denúncia do óbvio de que não se trata de uma cidade segregada entre a conformação urbana com beleza natural e a pobreza, ora explicitam as questões que permanecem como uma ameaça à vida na cidade.
Desse modo, vale questionar por um lado se “Cidade Partida” transformou-se em um estigma e por outro se “Cidade Maravilhosa” seria uma forma de manipulação da visibilidade não só do estigma aliado à favela mais de todos os problemas da cidade do Rio de Janeiro. “Exibi-lo ou aceitá-lo; contá-lo ou não contá-lo; revelá-lo ou escondê-lo; mentir ou não mentir e, em cada caso, para quem, como, quando e onde” (GOFFMAN, 1988, p.51). O que se esconde e o que se aponta quando mostramos que o Rio de Janeiro é a “Cidade Maravilhosa"?
Uma apropriação e adaptação das questões de Erving Goffman (1988) na análise da manipulação da identidade podem mostrar uma discrepância entre a complexa realidade da cidade e os discursos sobre o Rio de Janeiro. "No estudo do estigma, a informação mais relevante tem determinadas propriedades. É uma informação sobre um individuo [aqui sobre uma cidade], sobre suas características mais ou menos permanentes, em oposição a estados de espírito, sentimentos ou intenções que ele poderia ter num certo momento"(GOFFMAN, 1988, p. 52).