Revista Rua


Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de uma cidade deteriorada
Wonderful City and Divided City: Notes on the Management of Spoiled City

Aline Gama de Almeida, Alberto Lopes Najar

desembarcarem do avião no aeroporto internacional e ao se deslocarem até os hotéis, o caminho tem o cheiro de podre dos esgotos lançados na Baia de Guanabara. As imagens que surgem são as das inúmeras favelas que compõem o complexo do Alemão, marcas da “Cidade Partida”. Assim, é possível considerar que a área de manipulação do estigma de uma cidade “pertence fundamentalmente à vida pública, ao contato entre estranhos ou simples conhecidos, colocando-se no extremo de um continuum cujo pólo oposto é a intimidade” (GOFFMAN, 1988 p.62).
O turismo oferece visita às favelas como algo exótico. As pesquisas que desconstruíram a marginalidade da favela se iniciaram na década de 1970, mas a transformação dessa representação é conquistada passo a passo. Apesar de não existir um consenso, há projetos, políticas públicas e renomeações. A mais recente tentativa são as “favelas pacificadas”, com a construção de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que diminuíram a ação do tráfico e a violência, e as obras de infraestrutura do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
É obvio que uma das estratégias é esconder ou eliminar signos que se tornaram símbolos de estigma. A mudança de nome é um exemplo conhecido.” (GOFFMAN, 1988, p.103). Vale lembrar que outras tentativas de urbanização, policiamento e remoção também aparecem em diferentes períodos do século XX. Nenhuma delas concebeu definitivamente as favelas como um território contínuo à cidade ou como mais um bairro.
Um exemplo do segundo momento é quando os representantes da cidade possuem a tarefa de “convencer o público a usar um rótulo social mais flexível à categoria em questão(GOFFMAN, 1988, p.33).O objetivo principal daqueles que apresentam o Rio de Janeiro para pessoas de outros países, ou estranhos, é de manipular as inúmeras questões urbanas, com planos futuros e aspectos de reconhecimento da “Cidade Maravilhosa”. No entanto, os planos não são o suficiente, pois são apenas projeções de uma cidade teoricamente fiel à norma, ou melhor, fiel à funcionalidade de infraestrutura urbana (transporte, segurança e saúde).
Esse controle sobre a funcionalidade só é percebido e vivenciado durante os grandes eventos para o turismo. A experiência com os grandes eventos é de um “encobrimento” dos estigmas. Tudo parece funcionar como uma cidade normal para aqueles que visitam a cidade no período. Antes que se possa falar de graus de visibilidade, deve-se especificar a capacidade decodificadora da audiência”, adverte