Revista Rua


Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de uma cidade deteriorada
Wonderful City and Divided City: Notes on the Management of Spoiled City

Aline Gama de Almeida, Alberto Lopes Najar

Goffman (1988, p.61), como a dos turistas que não experimentam a rotina diária de transporte, habitação, segurança, etc.
As condições de melhoria de um Rio de Janeiro deteriorado não são da vontade de quem habita a cidade; “é uma questão de conformidade e não de aquiescência.” (GOFFMAN, 1988, p.139). Para viver nela, transforma-se a falta de infraestrutura pública em investimento privado. Isto é, se o transporte não atende as necessidades, alguns de seus habitantes precisam possuir automóveis particulares; se não há hospitais públicos suficiente, contrata-se planos de saúde e médicos; se não existe policiamento, constrói-se muros, paga-se vigias e câmeras de vídeo de vigilância. A cidade que se divide entre o consumo público e privado não seria uma nova versão da “Cidade Partida”?
Muito embora, os primeiros contatos de um estranho com o Rio de Janeiro estejam particularmente sujeitos a respostas estereotipadas como sugeridas acima, na medida em que se transita e se vivencia a cidade, a “aproximação categórica cede, pouco a pouco, à simpatia, à compreensão e à avaliação realística de qualidades (GOFFMAN, 1988, p.61). 
Assim a apropriação da análise de Goffman para as representações sociais da cidade do Rio de Janeiro, nos possibilita refletir sobre a estratégia política, econômica e social de tais representações. O Rio, manipulado pelos representantes políticos e pelo senso comum, vive a síndrome de “Cidade Maravilhosa”, na qual a proximidade com as belezas naturais não estabelece uma percepção crítica sobre a rotina da cidade em si. A natureza exuberante é apenas um retoque dado aos estigmas e exerce um controle sobre a informação das deficiências urbanas.
 
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Aline Gama de. Maravilhosa e Partida: representações do Rio de Janeiro no telejornalismo local. Dissertação de Mestrado, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - Rio de Janeiro. 2008.
 
ABREU, Maurício de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO/Jorge Zahar, 1987.
_______. Reconstruindo uma história esquecida: origem e expansão inicial das favelas do Rio de Janeiro. Espaços e Debates - Cidade Brasileira Século XX, 1994. 37: 34-46.
 
ABREU, Regina. O livro que abalou o Brasil: a consagração de ‘Os Sertões’ na virada do século. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 1998. v.5 (supl.): 93-115.
 
AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. São Paulo: Ática, 2000.