Revista Rua


Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de uma cidade deteriorada
Wonderful City and Divided City: Notes on the Management of Spoiled City

Aline Gama de Almeida, Alberto Lopes Najar

cidade esplendorosa, a beleza das paisagens da natureza, a luz do céu azul claro, o ar fresco e os momentos de contemplação vividos por Jeanne Catulle Mendès em sua visita ao Rio de Janeiro.
Outras fontes afirmam que o sinônimo de Rio de Janeiro, que virou título de marcha de carnaval e hino oficial da cidade, foi criado pelo escritor maranhense, Coelho Neto, quando publicou seu “artigo 'Os sertanejos', na página 03, do jornal 'A Notícia', edição de 29.11.1908” (CAMPOS, 1965, p. 76 e Milton Teixeira[4]). Coelho Neto também publicou um livro chamado “Cidade Maravilhosa”, que teve sua primeira tiragem em 1928 (NETO, 1933). O livro reúne uma série de crônicas sobre a cidade do Rio de Janeiro. A crônica que o intitula conta a história de uma professora interiorana que é convidada por um desconhecido para conhecer o Rio e lá morar com ele. Na "Cidade Maravilhosa! Cidade sonho, cidade do amor" (NETO, 1933, p.17) eles seriam felizes. O desconhecido enaltece a cidade que é vista de longe, do local onde a professora morava e ele foi para pintar.
A expressão também dá nome ao programa de rádio “Crônicas da Cidade Maravilhosa” de Cesar Ladeira, veiculado na Rádio Mayrink Veiga[5]. No carnaval de 1935, a irmã de Carmem Miranda, Aurora Miranda, e André Filho gravam a música “Cidade Maravilhosa”. André Filho compõe a música em 1934 e a inscreve para o concurso de marchinhas de carnaval de 1935. A música, cantada por Aurora Miranda, fica em segundo lugar. A marcha vitoriosa foi "Coração Ingrato", de Nássara e Frazão, na voz de Silvio Caldas (COSTA, 2001).
Entretanto, é a música “Cidade Maravilhosa” que se torna a canção dos cariocas, tocada em momentos de alegria e entusiasmo. A expressão passa a ser cantarolada como parte da letra da música de André Sá Filho, que exalta os “encantos mil” da cidade, como o “berço do samba e das lindas canções” e o “jardim florido de amor e saudade”. O marco de sua melodia é a primeira estrofe: “Cidade maravilhosa/ Cheia de encantos mil/ Cidade maravilhosa/ Coração do meu Brasil”.


[4] Em pesquisa sobre a autoria de “Cidade Maravilhosa” o historiador e pesquisador Milton Teixeira afirma: “Sempre pensei que fosse da crônica do Coelho Neto. Aliás, tive há alguns anos a oportunidade de conversar com a neta do Coelho Neto, Carmem Coelho, que me colocou isso. Atenciosamente. Milton M. Teixeira”. Nos arquivos da Biblioteca Nacional, não consta o artigo mencionado por Campos (1965) e Milton Teixeira. O arquivo microfilmado do jornal “A Notícia”, de 29.11.1908, não possui a página 3 e nenhum artigo de Coelho Neto.
[5] O arquivo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro não possui os programas da Rádio Mayrink Veiga, que foram destruídos.