Revista Rua


Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de uma cidade deteriorada
Wonderful City and Divided City: Notes on the Management of Spoiled City

Aline Gama de Almeida, Alberto Lopes Najar

mais ocorrências de criminalidade, é visto pela mídia, como bandido. O aumento da violência marca a vida da cidade favela e não-favela.
A construção da imagem do Rio de Janeiro como a “Cidade Partida” aparece também em trabalhos de Sociologia, Antropologia, Urbanismo, etc. Alguns deles, ao discutirem as questões urbanas, referem-se à expressão “Cidade Partida”, afirmando como LEITE (1998), RIBEIRO (2000, 2001) e ZALUAR (1998, 2004) ou criticando, como NAJAR (2002, 2003), PRETECEILLE (1999), VALLADARES (2005) e VELHO (2000), a percepção da divisão sócioespacial da cidade. Apesar disso, a expressão não se transformou em conceito de nenhuma das disciplinas e não foi definida por nenhum desses autores.
O termo “Cidade Partida” também se torna título do livro–reportagem do jornalista Zuenir Ventura. O livro relata a estadia de dez meses do jornalista em Vigário Geral, que acabara de passar pela chacina de 21 pessoas e foi amplamente noticiada. Os moradores do asfalto, artistas plásticos, antropólogos, sociólogos e ele, jornalista, adentram a favela e ao lado de moradores que não são nem bandidos, nem criminosos, nem traficantes, criam o movimento “Viva Rio”. A necessidade de justiça e de recuperação da autoestima perdida na chacina une pessoas, apesar de morarem em locais diferentes e de, segundo o jornalista, serem de partes diferentes da cidade (VENTURA, 1994).
Na leitura, percebe–se que o diálogo entre os moradores de cada uma das partes contradiz o título dado ao livro. A sugestão de que a “Cidade Partida”, de Zuenir Ventura, descreve uma situação de guerrilha urbana, que divide os moradores da favela e do asfalto, os pobres e os ricos, os bandidos contra a sociedade, vem de uma leitura rápida e descuidada, pois é evidente no próprio livro que a interação existe. Ao intitular o livro, chama-se atenção para uma questão fundamental da representação social construída sobre o Rio de Janeiro. 
 A “Cidade Partida” sintetiza a ideia de uma divisão sócioespacial da cidade entre favela e não-favela, como se não houvesse mediações. As áreas de não-favela, mais conhecidas como bairros, são habitadas por pessoas de bem, com maior nível de renda, mais Educação e melhores hábitos. Nas favelas, também conhecidas como morro e comunidade, moram pessoas maleducadas e pobres que aliadas a malandros e bandidos conquistam meios de viver. Tal divisão é uma construção que norteia o imaginário e as representações sociais da cidade do Rio de Janeiro do século XX.