Revista Rua


Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de uma cidade deteriorada
Wonderful City and Divided City: Notes on the Management of Spoiled City

Aline Gama de Almeida, Alberto Lopes Najar

Dessa forma, a representação positiva da cidade se associa às belezas naturais que constituem aspectos anteriores à existência da cidade atual, pois foi o entorno de montanhas e mar somados às construções urbanas da Reforma Passos na primeira década do século XX que definiu a “Cidade Maravilhosa”. A representação negativa reforça estigmas e questões históricas relativos aos problemas urbanos do Rio de Janeiro, entre eles, as favelas ou uma ausência de uma eficiente política de habitação. Tudo o que define a denominação de “Cidade Partida”.
“Tendemos a inferir uma série de imperfeições a partir da imperfeição original e, ao mesmo tempo, imputar ao interessado alguns atributos desejáveis, mas não desejados(GOFFMAN, 1988, p. 15). Nesse sentido, a importância do tema do tráfico de armas e drogas e a violência se confundem com o espaço da favela, aparentemente desordenado e construído pelas próprias famílias que ali moram há décadas, sem intervenção de engenheiros, arquitetos e construtores.
Os textos, áudios e imagens da mídia impressa e televisiva; as músicas, os filmes e a literatura; e ainda a conversa informal em mesas de bar, nos elevadores e em salas de espera entre os que participam da rotina diária de viver no Rio de Janeiro reproduzem o senso comum no qual os epítetos da cidade se apresentam sob a forma de clichês (ALMEIDA, 2008).
Assim, a sociedade e os indivíduos estabelecem os meios de categorizar as pessoas, as coisas e também as cidades. Além dos epítetos do Rio de Janeiro, reconhecemos, por exemplo, a “Cidade Luz” por Paris e “The Big Apple" por Nova Iorque, e, por conseguinte, os atributos considerados como comuns e naturais dessas cidades. Dessa forma, quando uma cidade nos é apresentada pelas imagens de cartões postais e pelos discursos do senso comum, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua “identidade social(GOFFMAN, 1988, p.12).
A questão da manipulação sobre o Rio de Janeiro surge em dois momentos. O primeiro é o da tensão gerada durante os primeiros contatos seguida de uma intimidade a rotina da cidade. O segundo trata do conteúdo que não informa os defeitos, isto é, os problemas urbanos. Nesse sentido, “símbolos de prestígio podem ser contrapostos a símbolos de estigma(GOFFMAN, 1988, p.53).
Um exemplo do primeiro momento acontece quando vôos internacionais chegam à cidade durante o dia. O piloto é orientado a contornar o Pão de Açúcar, permitindo passageiros e turistas apreciar as montanhas, o Cristo Redentor, a Baia de Guanabara e parte do litoral. Todos símbolos da “Cidade Maravilhosa”. No entanto, ao