Revista Rua


Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de uma cidade deteriorada
Wonderful City and Divided City: Notes on the Management of Spoiled City

Aline Gama de Almeida, Alberto Lopes Najar

O vereador Salles Neto aprovou no dia 25 de maio de 1960 na Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro “a Lei no. 5 que determina ‘ficar adotada como marcha oficial desta cidade do Rio de Janeiro, respeitando os respectivos direitos autorais, ex vi da legislação anterior, a marcha “Cidade Maravilhosa”, de autoria do compositor André Filho" (COSTA, 2001, p.143).No mesmo ano, o Rio de Janeiro deixa de ser a capital federal, função exercida desde 1763, que é tranferida para Brasília.
 
A “Cidade Partida” 
 
Paralelo a isso, a manutenção da favela como modo de habitar o espaço da cidade no século XX se relaciona a uma construção social relativa à pobreza, à malandragem e às classes perigosas (VALLADARES, 1991). Tal construção permite a percepção de uma divisão social que parte a cidade do Rio de Janeiro em duas, o que décadas depois vai se transformar no epíteto “Cidade Partida”. A visão da cidade favela e da cidade não-favela representa e reapresenta maneiras de perceber uma ordem territorial, social e econômica.
 A concepção de uma “Cidade Partida” aparece no início do século XX. As crônicas de 1900 a 1910 já apresentam a favela como uma cidade à parte.
 
Vinha-me, então, ao espírito, a crônica terrível do morro sinistro, o morro do crime. Encravada no Rio de Janeiro, a Favela é uma cidade dentro da cidade. Perfeitamente diversa e absolutamente autônoma. Não atingida pelos regulamentos da prefeitura e longe das vistas da Polícia. Na Favela, ninguém paga impostos e não se vê um guarda civil. Na Favela, a lei é a do mais forte e a do mais valente. A navalha liquida os casos. E a coragem dirime todas as contendas. (COSTALLAT, 1931, p.33-39).
 
Em muitos autores do início do século XX, como Olavo Bilac, Lima Barreto, o jornalista Benjamin Costallat e o sambista Orestes Barbosa, que escreveram crônicas entre 1908 e 1923, o conceito de dualidade se apresenta no discurso sobre a favela carioca em contraste com a cidade do Rio de Janeiro.As origens desse pensamento, na verdade, devem ser buscadas no século passado (ZALUAR, 1998, p.12).
O epíteto aparece de vez na década de 1990, quando a mídia se apropria da “Cidade Partida” para expressar supostas diferenças espaciais, sociais e econômicas do Rio de Janeiro. O morador da favela, especialmente aquele que mora em locais com