Revista Rua


O inglês na rua, na avenida, na cidade. Uma análise discursiva sobre a língua inglesa no espaço urbano brasileiro
English on the street, on the avenue, in the city. A discoursive analysis on the English language in the urban Brazilian space

Ilka de Oliveira Mota

rua, faixas comerciais, outdoors, formulações várias que emergem de diferentes ordens do discurso.  Todos esses textos constituem, assim, o corpo da cidade. Um corpo que significa em suas particularidades e especificidades. Segundo Orlandi (2001a), trata-se de uma cidade que tem seu corpo significativo e suas formas. Desta maneira,
 
(...)o rap, a poesia urbana, a música, os grafitos, pichações, inscrições, outdoors, painéis, rodas de conversa. Vendedores de coisa-alguma, são formas do discurso urbano. É a cidade produzindo sentidos. (ORLANDI, 2001a, p.11)
 
São textos advindos de diferentes discursividades que produzem efeitos por onde o olhar se fixa, se acomoda, para, contempla ou, simplesmente, passa olhando de relance. Seja de que modo for, o olhar é pego, inclinando-se (BARTHES apud ORLANDI, 2001b), pegando carona com as discursividades que constituem o espaço contraditório da cidade, suas ruas e avenidas. Para apreender teoricamente algumas dessas discursividades que trabalham esses vários modos de a linguagem se mostrar no espaço urbano, analisamos um outdoor de uma escola de idiomas que traz o seguinte enunciado:
“Um mês de inglês: José
Um semestre de inglês: José Carlos
Um ano de inglês: Dr. José Carlos”.
 
Vale dizer que este enunciado está justaposto a um outro, localizado no canto superior direito do outdoor com uma estrela sobreposta, qual seja: “O mundo recebe você melhor”. Observemos:

 
A análise permitiu compreender aspectos da discursividade do inglês no espaço urbano, de sua constituição histórica e as representações imaginárias que permeiam o outdoor, mais precisamente o saber construído sobre/para o Inglês.
A nosso ver, textos publicitários como o outdoor, materialidade essa própria do espaço urbano por excelência, têm constituído fonte profícua para a análise e compreensão de gestos de interpretação construídos para a língua inglesa, para os sujeitos que dela se apropriam ou não.  Abaixo, seguem as considerações principais; os textos teórico-metodológicos de base são da Análise de Discurso, Orlandi (1998, 2004, 2005) principalmente.
A Análise de Discurso (AD doravante), perspectiva a partir da qual enunciamos, é uma disciplina do conhecimento que traz para consideração uma concepção de língua(gem) que é ao mesmo tempo histórica, social e ideológica.
Esse modo de conceber a linguagem permite pensar o sujeito como lugar de contradição e a língua, por sua vez, como lugar de resistência. Isso significa que o sujeito é histórico e tem a sua identidade em movimento, (re)construção.
Vale dizer ainda que a língua se constitui como espaço de construção da subjetividade, lugar de contradições e conflitos e de projeções imaginárias.
O imaginário atravessa e constitui as relações linguageiras das quais o sujeito faz parte. Neste sentido, não são os sujeitos nem os seus lugares empíricos que funcionam e que poderiam ser analisados sociologicamente, mas suas imagens que resultam de projeções. São tais projeções que permitem transcender as situações empíricas para as posições dos sujeitos no discurso.
A memória discursiva, outro conceito fundamental, é tratada como interdiscurso e deve ser relacionada ao discurso. Entende-se por interdiscurso aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. É o saber discursivo que torna possível dizer (todo dizer) e que retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito, sustentando cada lance de palavra. Veremos, por meio de nosso recorte, como o já-dito irrompe no fio do discurso.
Em AD, todo dizer se encontra na confluência de dois eixos: formulação (intradiscurso) e constituição (interdiscurso). O interdiscurso é o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos. Já intradiscurso compreende o eixo da formulação, ou seja, aquilo que se diz em um momento dado, em condições dadas. Como afirma Orlandi (1999, p. 33), “todo dizer, na realidade, se encontra na confluência dos dois eixos: o da memória (constituição) e o da atualidade (formulação). E é desse jogo que tiram seus sentidos”.
O trabalho com ambos os eixos requer a mobilização de um conceito extremamente produtivo chamado paráfrase. Este conceito, compreendido como o retorno aos mesmos espaços do dizer, permite a produção de diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado (ORLANDI, 1999), auxiliando na compreensão do funcionamento discursivo da linguagem.
 
A Análise de Discurso (AD doravante), perspectiva a partir da qual enunciamos, é uma disciplina do conhecimento que traz para consideração uma concepção de língua(gem) que é ao mesmo tempo histórica, social e ideológica.
Esse modo de conceber a linguagem permite pensar o sujeito como lugar de contradição e a língua, por sua vez, como lugar de resistência. Isso significa que o sujeito é histórico e tem a sua identidade em movimento, (re)construção.
Vale dizer ainda que a língua se constitui como espaço de construção da subjetividade, lugar de contradições e conflitos e de projeções imaginárias.
O imaginário atravessa e constitui as relações linguageiras das quais o sujeito faz parte. Neste sentido, não são os sujeitos nem os seus lugares empíricos que funcionam e que poderiam ser analisados sociologicamente, mas suas imagens que resultam de projeções. São tais projeções que permitem transcender as situações empíricas para as posições dos sujeitos no discurso.
A memória discursiva, outro conceito fundamental, é tratada como interdiscurso e deve ser relacionada ao discurso. Entende-se por interdiscurso aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. É o saber discursivo que torna possível dizer (todo dizer) e que retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito, sustentando cada lance de palavra. Veremos, por meio de nosso recorte, como o já-dito irrompe no fio do discurso.
Em AD, todo dizer se encontra na confluência de dois eixos: formulação (intradiscurso) e constituição (interdiscurso). O interdiscurso é o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos. Já intradiscurso compreende o eixo da formulação, ou seja, aquilo que se diz em um momento dado, em condições dadas. Como afirma Orlandi (1999, p. 33), “todo dizer, na realidade, se encontra na confluência dos dois eixos: o da memória (constituição) e o da atualidade (formulação). E é desse jogo que tiram seus sentidos”.
O trabalho com ambos os eixos requer a mobilização de um conceito extremamente produtivo chamado paráfrase. Este conceito, compreendido como o retorno aos mesmos espaços do dizer, permite a produção de diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado (ORLANDI, 1999), auxiliando na compreensão do funcionamento discursivo da linguagem.