Revista Rua


O inglês na rua, na avenida, na cidade. Uma análise discursiva sobre a língua inglesa no espaço urbano brasileiro
English on the street, on the avenue, in the city. A discoursive analysis on the English language in the urban Brazilian space

Ilka de Oliveira Mota

Assim, com base em tudo que expusemos até aqui, pensamos ser fundamental dizer neste momento da reflexão: esse discurso que atravessa verticalmente o enunciado do outdoor produz efeitos que apagam a heterogeneidade constitutiva do espaço urbano e impedem o reconhecimento do sujeito inscrito em outras formas de simbolização. Trata-se, portanto, de um discurso que a um só tempo unifica, separa e gregariza.
 
5- Considerações finais
Neste enunciado que acabamos de ver, isto é, neste recorte na ideologia, não há lugar para aquele que não fala Inglês. Desocupante, ou seja, aquele que não tem direito a um lugar, lugar de reconhecimento na sociedade, na cidade, na avenida, na rua.... Trata-se de um indivíduo para o qual não há lugar de reconhecimento, restando-lhe um não-lugar. Lugar nem nome, ao menos que adquira o conhecimento do inglês. Um sem-língua, um sem-nome, um sem-lugar, um inocupante. Existência inexistente. Não lhe cabe, pois, o direito a uma identidade que reconheça/legitime o lugar do sujeito na cidade.
Observando o funcionamento discursivo do outdoor, o Inglês separa discursivamente um sujeito do outro, garantindo maior visibilidade para uns, enquanto exclui (muitos) outros. “Gregarização” do sujeito que não fala esta língua.
O que significa saber Inglês hoje, no espaço da cidade?  O que significa não saber? Que separação é essa entre saber e não saber essa língua? Que consequências sociais há entre saber e não sabê-la? Que lugar, na cidade, o sujeito que fala e que não fala o Inglês pode/deve ocupar?
Observamos, por meio de nosso recorte, que, ao mesmo tempo em que a língua é lugar de resistência, é também lugar de estabelecimento de desigualdade, de divisão, de inclusão-exclusão de sujeitos. O texto do outdoor presente na cidade, no espaço urbano (ruas e avenidas), estabelece quem é quem na cidade, na rua, na avenida. Ao organizar os sujeitos no espaço da cidade, “Este é José; aquele é José Carlos, aqueloutro, Dr. José Carlos”, silencia-se (apaga-se) a existência daqueles que não tem nenhum tempo de inglês. Para estes, não há nome, porque, como vimos, de acordo com o enunciado, instaura-se uma lógica da exclusão, exclusão esta que resulta no apagamento de certos sujeitos, de sua identidade. Portanto, se não existem, não precisam de um lugar ou identidade, afinal, de acordo com a discursividade aí instaurada, não há lugar nem identidade para aqueles que não falam o inglês.