Revista Rua


O inglês na rua, na avenida, na cidade. Uma análise discursiva sobre a língua inglesa no espaço urbano brasileiro
English on the street, on the avenue, in the city. A discoursive analysis on the English language in the urban Brazilian space

Ilka de Oliveira Mota

Há que se levar em consideração o fato de que se, de um lado, esta língua legitimada permite a circulação e reconhecimento do sujeito, de outro, ela deixa de fora aqueles que dela não fazem parte ou, pelo menos, não oferece o mesmo tratamento aos sujeitos que não falam a língua, afinal trata-se de uma língua que faz com que seu usuário seja melhor recebido (“recebe você melhor”) em seu país de língua portuguesa majoritariamente. Isso se dá porque toda legitimação implica em apagamentos (PFEIFFER, 2001). A adjetivação “melhor” é um sintoma desse funcionamento que aí se instaura.
Esta relação entre falantes (que sabem ou não o Inglês) e a língua inglesa propriamente comparece como um espaço regulado e de disputas por um lugar “melhor”, do ponto de vista social, em seu próprio país. Neste sentido, concordamos com Guimarães (no prelo) quando afirma que a língua é dividida no sentido de que ela é necessariamente atravessada pelo político. Em síntese, falar e não falar a língua do poder constitui-se elemento de identificação dos sujeitos dentro do espaço urbano. O acréscimo de nomes e titulação é um sintoma disso: José > José Carlos > Dr. José Carlos.
O sujeito urbanizado, sujeito de direitos e deveres, responsável pelo seu sucesso, é marcado, pois, por esta confluência entre sentidos de legitimidade e sucesso, de um lado, e ilegitimidade e insucesso/fracasso, de outro, que operam um lugar de reconhecimento, prestígio e legitimidade para a língua inglesa no contexto urbano. Para reverter essa realidade, isto é, para que saia da ilegitimidade/insucesso/anonimato é preciso que o sujeito ‘compre’ o produto que lhe é oferecido (para não dizer imposto): aprender a língua inglesa na escola de idiomas X. No texto publicitário a escola é colocada, imaginariamente, no lugar da responsabilidade de tornar o indivíduo em um sujeito reconhecido e aceito pelo mundo e, principalmente, bem recebido.
Observemos que o acréscimo nos nomes - José > José Carlos > Dr. José Carlos - torna os sujeitos visíveis, tanto em relação a sua inclusão quanto a sua exclusão. Como ensina-nos Roure (2001), é por meio da visibilidade que “a cidade e, portanto, os sujeitos que a habitam, são significados”. A autora acrescenta que não se trata de uma visibilidade natural, mas, isto sim, “produzida por um imaginário urbano que organiza, classifica e a partir daí designa aquilo que deve ser reconhecido enquanto próprio ao urbano” (ROURE, 2001, p. 61).