Revista Rua


O inglês na rua, na avenida, na cidade. Uma análise discursiva sobre a língua inglesa no espaço urbano brasileiro
English on the street, on the avenue, in the city. A discoursive analysis on the English language in the urban Brazilian space

Ilka de Oliveira Mota

A partir da observação do texto, pudemos depreender o seguinte gesto de interpretação. Com um mês de Inglês, o indivíduo passa a ser reconhecido como um mero ser no mundo – José – tão igual aos outros. Um semestre de Inglês tira-o de um relativo lugar comum, garantindo-lhe, em razão do acréscimo Carlos, traços de maior visibilidade, uma vez que o nome José Carlos estabelece uma distinção com outros indivíduos chamados José. Não se trata mais de um José simplesmente, mas de José Carlos, nome menos frequente, menos comum que José. A visibilidade e reconhecimento do sujeito, de seu espaço na sociedade, vão aumentando conforme o tempo de estudo e contato com a língua inglesa.
Por outro lado, um ano de estudo de Inglês torna José/José Carlos um cidadão reconhecido e respeitado. Ele não é mais simplesmente um José qualquer. Observe-se que o título de doutor, antecedendo o nome, favorece um deslocamento do lugar do anonimato, do lugar comum para um lugar de reconhecimento, de prestígio social, lugar este garantido pelo aprendizado da língua inglesa. Produz-se o efeito de que está nas mãos da língua inglesa o favorecimento de uma mudança de vida, sua ascensão social, resultando em sucesso e prestígio. Vale dizer, sucesso e prestígio que a sua língua, no caso o Português, não é capaz de garantir. Sentidos silenciados atravessando o fio do discurso...
Perguntamos: o que será, pois, do indivíduo desprovido do conhecimento do Inglês? Ou parafraseando o texto do outdoor: o que será do indivíduo sem nenhum mês/semestre/ano de Inglês? A partir da lógica do texto, note-se que, à medida que o Inglês é aprendido, há um ganho no nome: José > José Carlos > Dr. José Carlos. Desse movimento de sentidos, resulta a seguinte relação parafrástica: 0 mês de Inglês: ninguém, ou melhor, um Zé Ninguém, um ser em estado de embrião, um ser que não é ainda mas está preste a se tornar um cidadão caso aceite o “convite” do texto publicitário. Vale dizer que esse ser são todos aqueles que não falam o idioma. Noutros termos, pela direção argumentativa que o texto toma, talvez não seja o caso de haver aí uma pessoa, um sujeito, uma vez que, dentro da lógica excludente que o texto instaura, para ser sujeito é necessária a sua efetiva entrada e/ou domínio no/do Inglês. Só é sujeito reconhecido enquanto falante que fala/estuda o Inglês. Invertendo a questão, não se é sujeito se não fala ou estuda ou domina o Inglês. Portanto, falar e não falar esta língua é elemento de (des)identificação dos sujeitos.