Revista Rua


Antropônimos em Aurilândia-Go: uma abordagem pelo viés da Semântica Histórica da Enunciação
(Anthroponims in Aurilândia-GO: an approach through the Historic Semantics of Enunciation)

Elizete Beatriz Azambuja, Weruska Fagundes Correia

É possível se interpretar a reincidência de Pedro como uma nova temporalidade, que rememora a Bíblia por outros nomes em relação à geração dos pais, “Pedro” junto a “Lucas”, e que se inscreve em um tempo em que a relação com o inglês avança na disputa de espaço com os nomes santos.
A análise que fizemos permite-nos afirmar que o ato de dar nome a uma pessoa, na nossa sociedade, se dá, conforme as palavras de Guimarães (2005: 36-37), “segundo um agenciamento enunciativo específico”. Para o autor, “este acontecimento de nomear recorta como memoráveis os nomes disponíveis como contemporâneos, próprios de sua época”. O que observamos é que não há uma repetição de nomes em si. O que há é uma recorrência no modo como são grafados esses nomes, inscrita na diversidade presente na forma de grafar com tantas letras geminadas, k, y, w, conforme os exemplos citados no quadro anteriormente apresentado.
 Diante dos pontos observados nos nomes que constituem o corpus coletado, é possível afirmar que há um movimento de sentidos significativo no ato de enunciar nomes próprios de pessoas entre duas gerações, espaço de 30 anos, em Aurilândia-GO. Na verdade, o movimento que constatamos está relacionado às formas de se fazer referência ao mesmo lugar de enunciação, o que denota a relação desse sujeito contemporâneo com a sua língua e com a língua outra (inglês). Na geração mais velha, marcada pela presença do “y” e do “w”. Na geração mais nova, além dessas duas formas de grafar, surge uma variedade enorme como marca de uma unicidade pretendida.
Considerando os pontos acima citados, questionamos: o que temos em comum nas nomeações dessas duas gerações? Remetemo-nos a Guimarães quando reflete sobre a relação de falantes brasileiros com a língua inglesa. O autor afirma que “ela se constrói por uma relação direta entre falante e as línguas portuguesa e inglesa”. Nessa perspectiva, “estamos diante de um embate em que o falante está dividido por sua relação com duas línguas” (2005: 19). Esse embate não iniciou nesse século e isso está marcado nos antropônimos dos pais e intensificou-se nos dos filhos.
 Para nós, esse fato ilustra claramente o que afirma Guimarães (2005: 35): “o nome próprio de pessoa é, na nossa sociedade, uma construção em que relações semânticas de determinação constituem o nome.”