Revista Rua


Sonhar-te e(m) vidas. (Des)narr-ar...
Dream-art (i)´n lives. (Un)weaving...)

Elenise Cristina Pires de Andrade, Alda Regina Tognini Romaguera

ventam pela narrativa que se quer linear (s)em achar uma linearidade, uma função de causa-efeito, uma multiplicidade de explicações cabíveis para cada desvario, para cada ‘mentira’ que não se adequaria com um modelo de ‘verdade’... Será que as escritas e narrativas científicas seriam enunciados paralisantes e não suportariam a invasão de uma ventania dessa natureza?
Retângulo de cantos arredondados: Extras (story-boards)

.é assim que procede a ciênciA
.é o cão chupano  mangA

se não é, parece que é, tem tudo pra ser, então fica sendo...



In-ventar
 
(...) Não pojava [o pai] em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos (ROSA, 2001, p. 82).
 
Logo no início de Narradores de Javé temos, na igreja, um diálogo atravessador sobre a escrita científica, que apresenta provas cabais e não essas ‘pataquadas’ inventadas pelas gentes do lugar sobre o patrimônio de Javé: seu povo, suas culturas, a história dos objetos e personagens, o mito heróico da origem. Escritas fixantes e explicativas, o livro de Javé que justifica a permanência do vilarejo a salvo das águas, o conhecimento científico como o espírito salvador do lugar. Em que tensões, situações políticas, religiosas, éticas e estéticas o conhecimento científico e sua propagação, ensino, foram tomadas como a salvação através da previsão-predição da complexidade do mundo?
Ao nos remetermos à fabulação e à indagação sobre a ciência e suas marcas da/com a modernidade, trazemos Bruno Latour nos pensamentos de Ana Godoy (2008); a pesquisadora explora as discussões do sociólogo francês a respeito dos enunciados serem o que paralisa a reflexão sobre o mundo, “(...) na medida em que acomoda todo mundo, menos o mundo” (p. 89). Vem daí o lançamento que propomos ao vento que