Revista Rua


O Parque do Ibirapuera e o lazer na cidade de São Paulo: da descrição à apropriação
Ibirapuera Park and leisure in the city of São Paulo: a local description and appropriation

Paulo Cezar Nunes Junior

Introdução
Entre os múltiplos espaços de lazer existentes na metrópole de São Paulo, os parques urbanos são lugares interessantes para pensar a relação entre as formas desta manifestação e o desenvolvimento da cidade. No dualismo presente entre lazer e trabalho, atuam como uma espécie de “parênteses” ao espaço configurado para este segundo, revelando interfaces com o lazer por meio da organização do espaço e justificando a utilização do termo “prótese”, proposto por Santos (1996). Segundo este autor, espaço é um conjunto indissociável de objetos (materiais, imateriais, naturais e artificiais) e de ações mediadas por normas.
Assim, ao pensar no modo como os parques urbanos participaram do desenvolvimento das cidades e no papel que eles ocupam na configuração do espaço hoje, é preciso problematizar dois pontos, levantados por Santos (1996): sua materialidade e sua imaterialidade. Isto nos leva a pensar que os parques são constituídos por aspectos de ordem material (quantidade de bancos, quadras, áreas para piquenique, sanitários), elementos naturais e objetos artificiais (áreas verdes, lagos, contato das pessoas com os animais, condições climáticas) e ainda por parâmetros de ordem imaterial (controles, sensações, emoções, conflitos, imaginários e identidades de grupo).
Estas reflexões iniciais mostram que o estudo sobre os parques urbanos pode trazer pistas valiosas a respeito do modo de organização das cidades. Nele se cruzam tensões em torno das práticas de lazer, que ligam esta manifestação a diversos aspectos a ela relacionados: elementos de arquitetura, de paisagismo, de urbanismo, de organização política, de formas de divertir-se; entre outros tantos que são fundamentais para o desenvolvimento social e que nos fornecem pistas para um entendimento mais ampliado ao redor deste tema.
Assim como o lazer, o parque urbano é um produto da cidade moderna. Nasceu, a partir do século XIX, da necessidade de dotar as cidades de espaços adequados para atender a uma nova demanda social. Naquele período, o lazer e o tempo livre deveriam contrapor-se ao trabalho e ao tempo produtivo gerados pelas imanências do ambiente urbano (MACEDO; SAKATA, 2002). Estes locais teriam por função conduzir os sujeitos à sensação de descanso e de entretenimento, seja pela recriação do contato com a natureza, seja pela oferta de atividades dotadas de elementos lúdicos, que despertassem o sujeito para uma noção de tempo e de outra conduta daquela proporcionada pelo sistema produtivo das fábricas.